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O Bicentenário da Independência: o Futuro está Aberto

Leia a coluna de Vitor Marcelo Vieira na Quinta da Opinião

Para começar quero dizer que não são apenas os historiadores que contam a História do Brasil. E por ser tão dinâmica é que a história torna possível o diálogo com meus interlocutores, ou seja, com meus leitores nesta coluna do ClicRDC.

Quando estou escrevendo para minha coluna, procuro evitar travar um diálogo essencialmente acadêmico para que possamos pensar juntos. Sendo assim, gostaria de dizer que o passado não pode ser visto com nossas lentes do presente.

Isso porque isso implicaria em lançarmos julgamentos aos indivíduos e grupos que viveram no passado. Também porque o que é passado para nós, um dia foi presente para muitas pessoas, que viveram e sentiram o seu momento presente, permeados pelas experiencias do passado e por horizontes de expectativas de um futuro próspero para o Brasil, carregando consigo as experiências que tiveram de seu passado.

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Precisamos lembrar que a dimensão de passado e de futuro estão sempre presentes conosco, como se fosse uma película de filme que passa a nossa frente. As nossas expectativas de futuro só existem porque tivemos um espaço de experiencias.

Projetamos um futuro porque tivemos experiencias. É também fundamentado na experiencia do passado que a sociedade brasileira constrói o seu futuro. É por isso que não canso de dizer que a história é tão fundamental e é tão presente.

Basta observar as três dimensões do tempo, passado, futuro e presente, que agora vão se apresentar no dia 7 de setembro quando das comemorações do Bicentenário da Independência. Além do mais, sempre evocamos o passado a partir de inquietações do presente, que aliás são muitas atualmente, não é?

Serão dois eventos que vamos comemorar esse ano: os 200 anos da independência do Brasil e os 100 anos da Semana de Arte Moderna. E o que estes dois eventos têm em comum? Em primeiro lugar é preciso entender que a independência do Brasil foi um evento e um processo.

Um evento/acontecimento porque foi no dia 7 de setembro de 1822 que D. Pedro I deu o grito do Ipiranga: “Independência ou Morte”. E um processo porque ela tem momentos anteriores e posteriores ao acontecimento as margens do rio Ipiranga.

O processo de independência ocorreu no contexto das demais independências de nossos países vizinhos da América Espanhola. Ela se constituiu num cenário em ebulição em que outras independências no mundo também vinham acontecendo.

Muitos lugares estavam deixando de ser colônias. Mas teve singularidades no Brasil que não houve em outros lugares. Primeiro que a chegada da Corte Portuguesa em 1808 foi algo que não se costumava fazer naquele contexto.

A vinda de D. João VI se constituiu na instalação de uma máquina político/administrativa no Brasil. Isso agradou as camadas que já estavam economicamente instaladas, principalmente a do Rio de Janeiro, então sede do império.

A América portuguesa não estava isolada do resto do mundo, pois fazia parte de um contexto amplo e estava antenada com as transformações que vinham ocorrendo em outros lugares. O processo de independência não foi tranquilo.

Havia muitas divergências de grupos que aqui estavam e que tinham afinidades com Portugal e queriam a manutenção das ligações com a metrópole. Muitos conflitos militares foram travados para que o processo da independência se tornasse realidade.

Mas, nos interessa muito mais nos dias de hoje é perceber sobre qual o país que queremos para o futuro, não é? Então precisamos recuar até o período posterior ao ano da independência, 1822. Naquela época havia um sentimento que percorria o imaginário social de que deveríamos nos afastar e romper com Portugal e criar uma nação com uma identidade própria.

Isso porque o Brasil tinha um Estado, mas não uma nação. O início desse movimento ocorreu com a criação em 1838 do IHGB, Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, quando que começaram as definições das fronteiras físicas do Brasil.

O Brasil começava a ser mapeado. Intelectuais brasileiros também começaram a produzir narrativas de um passado nacional em busca da criação de um sentido de nação. Eles buscavam uma pedagogia do que é ser brasileiro.

Até concursos de História do Brasil houve para definir essas questões. Havia uma grande expectativa em torno dessa identidade porque se queria saber qual seria a marca, qual seria o caminho a ser adotado no calor da hora de construir um Estado sob uma unidade territorial.

O Brasil era escravista e havia uma parcela significativa de pessoas que nesse momento estava no cativeiro e as elites econômicas do Brasil se sentiam mais europeias do que brasileiras.
No ano de 1922 foi comemorado o Centenário da Independência.

As comemorações do centenário ocorreram no contexto da Semana de Arte Moderna. As comemorações do centenário influenciaram no processo do modernismo e a Semana de Arte Moderna só foi possível graças ao repertório da experiencia do processo da Independência.

Ela ocorreu exatamente quando se queria um Brasil moderno. Para os modernistas, a Semana de 1922 foi autora de uma nova independência, pois ali estava surgindo um Brasil moderno. É por isso que conhecer as várias ideias de Brasil como nação que estiveram em questão no processo de independência e na Semana de Arte Moderna, é fundamental nos dias de hoje para pensar a nossa cultura pública.

O horizonte de expectativa segue aberto e a identidade da nossa nação segue na indefinição. Considero fundamental trazer à tona o conhecimento do que foi a Semana de Arte Moderna durante as comemorações do centenário do Brasil, em 1922, pois assim podemos ter referencias para pensar sobre a formação social do nosso país e os instrumentos para projetar a nação que queremos nos tornar.

Refletir sobre essas questões nos próximos dias, na medida que nos aproximamos do dia 7 de setembro, é fundamental para que possamos nos conhecer como sujeitos históricos e capacitados para intervir na realidade. E para você, qual é o significado das comemorações do Bicentenário da Independência? Um grande abraço e até a próxima!

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