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Conversas mostram que empresário pressionou governo de SC para receber R$ 33 milhões antecipado

Informações: NSC

Imagens mostram que empresário pressionou pagamento de respiradores
Foto: Reprodução/NSC

Conversas em um aplicativo de mensagens, publicadas pela NSC, mostram que o empresário da Veigamed, empresa que recebeu pagamento antecipado para a aquisição de respiradores no valor de R$ 33 milhões, pressionou o governo de Santa Catarina para receber o valor. As conversas foram publicadas na quarta-feira (27).

Conforme a NSC, as trocas de mensagens são entre a servidora Márcia Geremias Pauli, que respondia pelo setor de compras da Secretaria da Saúde de Santa Catarina, e o empresário Fábio Guasti, que foi o representante da empresa Veigamed durante o processo de aquisição dos respiradores. As mensagens foram trocadas desde o dia 22 de março, e além de negociarem os equipamentos, os dois também trocaram informações sobre outros produtos, como monitores e máscaras. 

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– Se eu conseguir o lote, vocês têm que ter velocidade para a gente fazer o travamento das peças – disse Fábio, através de mensagem de áudio, conforme divulgou a NSC.

Além da compra, que foi fechada em 27 de março, o empresário chegou a oferecer outro lote, de 100 respiradores, com a pressão de um pagamento em tempo recorde. 

– A fábrica não segura, a gente não tem exclusividade. Vê com ele antes que esse 100 vai embora também – disse em mensagem de áudio.

Depois que o Estado confirmou o interesse em comprar os 200 respiradores, o representante enviou documentos de outra empresa para oficializar a venda. Apenas no dia 26 de março, ele encaminhou os dados da empresa Veigamed. Conforme relatou a NSC, ele disse que a alteração aconteceu  “por causa de representação comercial”, já que a empresa anterior não poderia vender para SC. Mesmo após a compra firmada, ele seguiu as pressões pelo pagamento antecipado.

– Estou com dificuldade mesmo, não tô blefando, não. Tenho 500 respiradores para vir junto desse lote. Se complicar isso aí, imagina… (…) Me ajuda, pelo amor de Deus. Vai lá com essa nota fiscal, entrega pra ele (servidor responsável pelo pagamento), faz ele fazer o pagamento lá, a ordem, e me dá essa ordem aqui – disse, novamente em áudio.

Depois do pagamento dos R$ 33 milhões, de acordo com a reportagem da NSC, a situação se inverteu: em 1º de abril, o governo de SC começou a pressionar a empresa para recuperar o dinheiro pago com antecedência. Tudo aconteceu através de conversas no WhatsApp.

O primeiro questionamento aconteceu em 3 de abril, dois dias após o pagamento dos respiradores. Os prints da NSC mostram que o Marcia disse à Fábio que até então secretário da Saúde, Helton Zeferino, questionou-a ela sobre a cópia da invoice (proposta de compra de um produto no exterior, a ser importado). Fábio tentou tranquilizá-la.

– Fala para ele (secretário de Saúde) que a gente está fazendo ainda o pagamento em renminbi (moeda chinesa) para pegar o invoice. O dinheiro entrou pra nós agora duas da tarde. Na China, é duas da manhã. Pode ficar tranquila que assim que a gente fizer, o dinheiro já foi para fazer o pagamento em renminbi, já converteu a moeda, então para aguardar que vai chegar o invoice e o rastreio. A empresa que está importando é a mesma que vende para o Einstein, para o hospital de campanha de São Paulo, para a rede d’Or do Rio de Janeiro. Pode ficar tranquila, tá. Vai chegar os equipamentos – afirmou.

De acordo com documentos obtidos na investigação, que a NSC teve acesso, os primeiros respiradores só foram adquiridos 15 dias depois, em 16 de abril, com a empresa TS Eletronics, de Itajaí, que utilizou ainda outra intermediária para fazer a importação dos equipamentos da China.

Um dia após a mensagem anterior, em 3 de abril, Fábio diz que um representante dele faria contato com Márcia.

“Tá te ligando aí uma pessoa aí que… é um parceiro comercial meu que você conhece muito bem, para deixar você tranquila”, diz Fábio Guasti, em mensagem de áudio. 

Segundo a NSC, a investigação aponta que neste período, o advogado Leandro Adriano de Barros entrou em contato com Márcia para tranquilizá-la e afirmar que a empresa entregaria os respiradores. Após, Márcia convidou Fábio para uma reunião na sede da Defesa Civil, para discutir a entrega dos equipamentos. 

Dois dias depois, no dia 6 de abril, conforme a NSC, Márcia disse à Fábio que precisa anexar ao processo “alguma comprovação da compra” dos respiradores. Fábio disse que iria enviar, mas não  enviou. No mesmo dia, ele tentou trocar o modelo do respirador. Ele disse, em áudio, que os respiradores do Estado demorariam “10 a 15 dias” para chegar e oferece outros 200 respiradores, para os quais segundo ele “o cliente não teria pressa”.

– Tem garantia, melhor do que chinês. Eu entrego amanhã para vocês, está aqui em São Paulo no meu galpão. É o mesmo preço, não precisa mexer nem para cima nem pra baixo. (…). É equivalente ao que vocês compraram, mas a marca é muito melhor.

Ainda segundo as mensagens da NSC, Márcia responde que esse modelo não serviria e volta a cobrar a comprovação da compra. Fabio novamente promete para o dia seguinte, mas não envia.

Estado cobra devolução de dinheiro

Estado recusa troca de modelo sugerida por empresário
Reprodução/NSC

Já em 7 de abril, a Secretaria passa a cobrar a devolução do dinheiro, e Márcia manda duas mensagens em que diz que “a estória está muito mal contada” e que, como a empresa não havia feito nenhum contrato de câmbio para compra na China, “não há motivo para não devolver os valores por conta da não entrega imediata dos ventiladores”.

Segundo a NSC, Fábio, que no dia 3 havia confirmado o recebimento do dinheiro “duas da tarde”, responde que na verdade só estariam “há 24 horas com o dinheiro”, mas que ele já teria sido enviado à China.

– A gente vai fazer a entrega do produto, já gastamos muito dinheiro para voltar atrás – afirmou, em um áudio, seguido de outro:

– Vocês vão aguardar o prazo. Estamos no nosso tempo, o dinheiro caiu segunda-feira. Vamos buscar a máquina para vocês. Avisa o secretário que fizemos um processo de concorrência, mandamos nosso preço e nosso prazo, a partir do ato do pagamento. E o ato do pagamento foi sexta-feira à tarde. Então pede para aguardar que nós vamos trazer os respiradores.

“Somos do bem, só não gostamos que fiquem fazendo pressão”, disse empresário.

Já em 10 de abril, Márcia tornou a pedir informações sobre a compra ou devolução do dinheiro e lembrou que o cronograma de entrega estava atrasado. Ele responde que estaria “correndo atrás” para entregar os produtos “o mais breve possível”.

– Nós perdemos tempo, tomamos decisões desamparadas de rito com as garantias de entregas que não ocorreram. Estou comprometendo a assistência – pressionou a servidora.

Fábio reclamou da pressão: 

– Nós somos do bem, só não gosto que fiquem fazendo pressão. Não precisa fazer pressão, já demonstramos que temos capacidade de entregar – disse.

Ainda segundo a NSC, o último contato aconteceu no dia 23 de abril. Nele, Fábio disse que os respiradores seriam embarcados no dia 29. Os primeiros 50 respiradores só embarcaram em 11 de maio. Por falta de licença de importação, os produtos estão retidos na Receita Federal, no Aeroporto de Florianópolis. Esses produtos foram alvo de uma apreensão determinada pela Justiça. Os demais, 150 ventiladores comprados pelo Governo, não deixaram a China até o momento.

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