
Querido diário, caro leitor/a, hoje decidi escrever sobre pesquisa que desenvolvi em documentos escolares. Uma das coisas que mais me dá prazer é estar entre documentos e fotos antigas para interpretar o passado. Realizei uma pesquisa ampla em documentos escolares e religiosos e hoje gostaria de compartilhar uma parte que achei interessante, ou seja, sobre um clube de mães que existiu na década de 1960 em Maravilha, SC. O que me chamou a atenção para pesquisar sobre isso é que o clube de mães era comandado por freiras da Congregação das Irmãs de Notre Dame, de Passo Fundo, RS. Elas haviam chegado em Maravilha ainda em 1954 para instalar uma Casa Filial, ou seja, um convento e conduzir o processo educacional no então povoado de Maravilha.
O Clube de Mãe foi criado no dia 28 de maio de 1961. Porém os documentos da congregação dão conta de que ele já existia antes, pois, no dia 23 de agosto de 1959, aconteceu a segunda reunião. Sob o comando das freiras, as reuniões eram conduzidas e as participantes do clube eram as mães que tinham filhos estudando no Grupo Escolar Nossa Senhora da Salete. O Clube de Mães que tinha no comando a diretora do grupo escolar Maria Ancila, tinha a função de realizar intervenções junto as famílias, abordando a obediência aos princípios cristãos. As reuniões aconteciam a cada dois meses. Possuía uma diretoria e uma secretária que era responsável pela escrita das atas das reuniões. Também contava com uma biblioteca voltada exclusivamente para as mães e para moças que aspiravam ao matrimônio. Os temas gerais se relacionavam fundamentalmente ao papel que a mulher devia exercer em casa e na sociedade. A responsabilidade de um “lar feliz” recaia toda sobre a mãe. Ela deveria cuidar da educação dos filhos, mas de modo especial das filhas. Estas deveriam ser educadas para o matrimônio. O marido deveria receber cuidados com delicadeza de modo a não ser importunado, pois do contrário poderia ocorrer discórdia no lar.
O Clube de Mães possuía 97 associadas. O Relatório Anual de 1959 do grupo escolar destacava na página 7, a participação das mulheres do povoado: “as reuniões foram sempre bem frequentadas e foram ventilados assuntos de interesse familiar, como educar os filhos e necessidade de colaboração entre a escola e a família”. Nas reuniões era tratado de modo geral, sobre a família, sobretudo de questões relacionadas com a educação das meninas, o papel da mulher no lar e na sociedade e a preparação das moças para o casamento. Aliás, isso era mais importante do que preparar elas para a continuidade dos estudos. Os encontros do clube ocorriam a cada dois meses. No encontro do dia 28 de maio de 1961 a diretora irmã Maria Ancila falou o seguinte as mães presentes: “Uma mãe inteligente saberá fazer de sua família uma pequena e agradável sociedade, fazer tanto como seus filhos e esposo se sinta bem no lar. Não basta proibir aos filhos, você não vá lá, em tal sociedade, ou não leia esta revista ou livro mau, é preciso já, antes de tal cousa tirar-lhe […] como, por exemplo, ter um rádio em casa, não sai tão caro e é útil e instrutivo. Não recalcar ou inibir o espírito de curiosidade sexual, mas em tempo oportuno quando o filho perguntar devemos orientá-lo. Conduzi-lo para seu pleno e sadio desabrochamento dentro de uma esfera moral e religiosa, principalmente as mães preparem as filhas antes do casamento. Não ter vergonha de falar, pois por esse falso pudor talvez quantas lágrimas terão de verter sua filha”. A diretora do clube também falava às mães de como deviam tratar seus maridos em casa. Numa das reuniões do ano de 1961 ela disse o seguinte para as mães presentes: “as mulheres sejam submissas, a seus maridos como ao Senhor, pois o marido é o chefe da mulher, como Cristo é o chefe da Igreja, […]. Nós como religiosas mesmo dum certo modo também dependemos do homem”
Nas reuniões, as mães também costuravam uniformes para os estudantes pobres. Para tal tarefa, havia um grupo constituído dentro do próprio Clube de Mães. Eram as representantes sociais do clube que se encarregavam de ir de casa em casa oferecendo para as crianças pobres a oportunidade de estudar. Lembrando que nesse período não havia a obrigação dos pais enviarem as crianças para a escola. Além disso elas também vigiavam o comportamento dos alunos no povoado. Era uma forma de vigiar e observar o comportamento delas também fora dos muros da escola. As reuniões do Clube de Mães se voltavam para a maneira de educar os filhos e era explicado que a mãe tinha o dever de castigá-los quando eles merecessem.
Prezado/a leitor, quero voltar a falar mais sobre minhas pesquisas. É sempre importante revisitar o passado para compreendermos a formação da nossa sociedade atual. Então desejo um bom restante de semana, um abraço e até a próxima coluna.