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O que você faria se tivesse a chance de nascer de novo?

Leia a coluna de Vitor Marcelo Vieira na Quinta da Opinião

O título da minha crônica de hoje é sugestivo e chama a atenção para a hipocrisia em que a sociedade muitas vezes enclausura os seres. Essa situação foi vivida por alguém, sabia? Sim, foi experimentada pelo Falecido Mattia Pascal, protagonista do livro de Luigi Pirandello (1867-1936), Prêmio Nobel de Literatura em 1934. O autor é considerado um dos principais nomes do teatro do século XX. Nasceu na cidade siciliana de Agrigento na Itália, de uma família burguesa.

Politicamente conservador viu o regime autoritário de Benito Mussolini como “garantia da ordem”. No entanto logo desapareceu sua simpatia por Mussolini, devido a sua política de desvalorização da cultura. Em seus últimos anos de vida se interessou pelo cinema e acompanhou uma célebre obra sua adaptada para as telonas. O seu romance mais célebre O Falecido Mattia Pascal virou filme. Porém, faleceu em dezembro de 1936. Afinal, sobre o que trata esta obra? O protagonista do livro Mattia Pascal, pequeno burguês da província de Miragno é perseguido por credores e convive em um ambiente familiar miserável.

Por um golpe do acaso tem a chance de escapar de sua rotina infeliz. Ganha uma fortuna em um cassino em Monte Carlo e é dado como morto em sua cidade natal confundido com o cadáver de um afogado. Se aproveitando da situação, constrói uma nova identidade como Adriano Meis e sai em viagem pela Europa. Passa por diversas cidades na Itália com a nova identidade. Os pensamentos de satisfação lhe invadem a cabeça, pois não precisa mais pagar seus credores e nem viver sua vida miserável anterior. Mas passa por momentos de crise, pois se dá conta de instantes de solidão. Além disso, precisa construir um passado para contar para as outras pessoas. Passa longas horas pensando como construir esse passado. Quem serão seus pais? Onde eles nasceram? Onde ele nasceu? Precisa construir uma narrativa que não entre em contradições. Dois temas são abordados nesta obra: a vida social vista como armadilha inescapável e a identidade submetida a máscara socialmente imposta que sufoca a personalidade multifacetada do ser humano.

Do ponto de vista narrativo o autor do livro abandona a terceira pessoa em favor do narrador em primeira pessoa. É o protagonista que revive sua história, registrando sua experiencia de modo retrospectivo. Os eventos são narrados de uma perspectiva subjetiva e parcial que contribui ao lado do jogo do acaso para relativizar a realidade. É preciso compreender que Pirandelo escreveu seu livro no contexto dos regimes autoritários na Europa do período entreguerras, num momento que testemunhou o colapso do sujeito e assim o autor cria a figura do anti-herói moderno, personagem inepto e oprimido pela própria história. Ao ler este livro você vai mergulhar inevitavelmente nos detalhes da narrativa e dos acontecimentos e pensamentos que invadem a mente de Mattia.

Quando leio livros clássicos da literatura mundial, costumo fazer observações com o lápis na margem da página para destacar as coisas que permanecem na sociedade ocidental passando de um século para outro. Um dos trechos que circundei do livro e que gostei foi o seguinte, na página 256: “Os absurdos da vida não precisam parecer verossímeis porque são verdadeiros. Ao contrário dos absurdos da arte que, para parecer verdadeiros, precisam ser verossímeis. E, sendo verossímeis, eles não são mais absurdos. Um caso da vida pode ser absurdo; uma obra de arte, se for obra de arte, não. Portanto, apontar como absurda e improvável, em nome da vida, uma obra de arte é estupidez. Em nome da arte, sim; em nome da vida, não”.

Então, agora é pegar o livro para ler. Quando li o livro no ano passado me senti no universo de Mattia Pascal. O sentimento era um misto de torcida por ele e ao mesmo tempo um receio do que aconteceria quando ele voltasse para sua cidade, pois ele era dado como morto. Viveu intensamente. E você quando ler esse livro vai viver intensamente. Não deixará de imaginar você numa condição semelhante ao protagonista da obra. Boa leitura e não esqueça, nós temos biblioteca pública em Chapecó. Quem sabe uma visita lá para ver se encontra O Falecido Mattia Pascal. Aliás, o espaço da nossa biblioteca pública de Chapecó é maravilhoso. Quem sabe você passa momentos de deleite aproveitando o ambiente e lendo uma obra clássica como esta do nosso artigo de hoje. Um grande abraço e boa leitura!

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