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Infância, adolescência e a imaginação

Leia a coluna de Vitor Marcelo Vieira na Quinta da Opinião

Gostaria de hoje caro leitor e cara leitora de falar com vocês sobre o período mais aguçado da imaginação, a infância e a adolescência. Antes de mais nada, é importante considerar que a imaginação é a melhor forma de a criança conhecer o mundo a sua volta. E essas são duas fases que os pais deveriam prestar muita atenção, para aproveitar ao máximo o potencial da imaginação para educar e consequentemente construir uma sociedade civilizada. Por isso mesmo é muito importante aproveitar os primeiros anos da infância para a possibilidade de uma educação alternativa utilizando a imaginação.

No estágio atual do desenvolvimento das forças produtivas, essas duas fases do ser humano, são bombardeadas diariamente por inúmeros conteúdos que ditam o que é ser criança e o que é ser adolescente. É um equívoco pensar que as crianças e adolescentes da atual geração, conhecida como geração Z, está perdida, ou não considera mais os valores. Para tanto quero falar sobre essas duas fases que sempre estão suscetíveis a influências externas, mais do que os adultos. Principalmente, o adolescente, é muito sensível a sugestões externas. É uma fase que precisa de carinho, de elogios, de acompanhamento.

Muito antes dos jogos de vídeo games ou vídeos curtos do Tik Tok e das efemeridades das redes sociais, a tela da televisão já apresentava todos os dias, desenhos animados, que se tornava a janela pela qual as crianças viam o mundo que as rodeava. Tratava-se da visão de um mundo acelerado. Crescemos assistindo os desenhos do Pica-Pau e da dupla Tom e Jerry. Nestes desenhos animados tudo era veloz. O Tom estava num lugar, de repente estava em outro. Sem falar em todas as vezes em que Jerry se dava bem. Penso que no mínimo os desenhos Tom e Jerry e Frajola e Piu-Piu, contribuíram muito para a estigmatização dos pobres bichanos. Sem falar que mostrava a criança um mundo instantâneo, efêmero, desconectado, acelerado. Talvez tenha contribuído também para estimular a impaciência em relação a sentar num belo bosque e ler um bom livro sem desistir no meio do caminho da leitura.

Com relação ao desenho animado do Pica-Pau, num momento ele estava escondido atrás de uma árvore, noutro, saía montado em seu cavalo e num piscar de olhos, tirava de seu bolso algum objeto enorme para bater na cabeça do Zeca Urubu, um dos seus inimigos nesta série de desenhos. Estes são exemplos que até os desenhos animados nos mostravam que tudo era efêmero, e que se conseguia as coisas e mercadorias num estalar de dedos. É óbvio que não podemos dizer que todas as produções cinematográficas e a indústria de quadrinhos se encaixavam nessa perspectiva. Talvez houvesse algumas exceções. Considerar que os produtores dessas artes pensavam intencionalmente em provocar esses efeitos nas crianças, seria exagero.

Na verdade, nenhum dos produtores individualmente criava tudo isso. Pelo contrário, todas as representações sobre juventude, crenças, educação, costumes e tradições, tudo que se encontra no campo das ideias, são determinados por uma base material, onde se encontram assentadas as relações de produção e o grau de desenvolvimento das forças produtivas, econômicas e sociais.
Dessa forma, é preciso compreender que a vida real é diferente daquela que nos foi sempre mostrada nos desenhos animados, nos filmes e nas novelas. Então, é possível constatar que sempre houve em nossa sociedade ocidental uma confusão entre a vida virtual com a vida real. É preciso separar as coisas. A vida real não é a vida virtual, aquela dos likes e das visualizações na internet. No passado, quando não existia internet, os likes, sinônimos de prestígio se davam de outras formas. O que houve foi um deslocamento para uma plataforma digital, uma rede mundial de computadores.

Houve mudanças, é claro, na maneira dos relacionamentos. Mas não podemos comparar os jovens desta geração Z com os da Y ou da X, muito menos julgar. Que existe um choque de posições e conflitos de gerações, é notório. Mas isso nada mais é do que as novas gerações transformando a cultura daqueles do passado, que estão aí e muitos que já se foram. Cada tempo teve seu desenvolvimento possível e as gerações anteriores devem ser vistas pelos olhos do passado e não pelos do presente.

Constantemente lembro que não fomos ensinados a lidar com a frustração e a perda. Nem a escola nos ensinava que nossos pais precisavam sair cedo e voltar tarde todos os dias para conseguir o alimento para nós. Não fomos informados que a indústria cinematográfica, como todos os demais segmentos na sociedade capitalista, precisava lucrar. Depois, quando chegamos a adolescência, éramos bombardeados por notícias fragmentadas da realidade, pois a janela por onde olhávamos para o mundo, era a televisão. Nunca tivemos tempo de pensar e refletir sobre as notícias que nos vinham via satélite, pois havia fragmentação nelas de modo que não fazia sentido. Então vejamos, uma era sobre um crime que aconteceu num determinado lugar do mundo; em seguida vinha uma sobre uma guerra em algum lugar do planeta, de modo que. quando você queria conversar com a família sobre o que foi passado, logo levava uma pancada na cabeça com outra notícia que não tinha nenhuma relação com a anterior.

Sem falar que o pai logo gritava “escuta”. Pronto, não havia diálogo sobre nada. Éramos zumbis assistindo tragédia em cima de tragédia e se impressionando com o mundo inseguro lá fora. Ficávamos estáticos no lugar. Não avançávamos em reflexão, em nada. O outro dia era tudo novamente até chegar o horário do jornal a noite e depois a novela. Então, quem será esse indivíduo que quando criança, ficava sentado no sofá com a mãe e o pai assistindo o mundo pela janela da televisão? Quem será esse indivíduo na fase adulta? Um abraço leitor/a e até a próxima oportunidade.

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