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Crônicas do fim da tarde no bairro Efapi

Leia a coluna de Vitor Marcelo Vieira na Quinta da Opinião

Final de maio, dia 30 foi mais uma terça-feira que eu passava no final de tarde pelo bairro Efapi em Chapecó, Oeste de Santa Catarina, em direção à universidade. Não fosse um detalhe, essa seria uma terça-feira como as anteriores. O detalhe foi que nesta minha passagem pelo bairro, durante as paradas nos semáforos, fiquei observando alguns detalhes acerca das pessoas e veículos que circulam por ali apressadamente, enquanto o sol se esconde no horizonte.

O ritmo é frenético e parece haver uma sincronia entre os passos dos transeuntes e os veículos com pessoas que vão e que vem a todo instante, cruzando umas pelas outras, com suas individualidades sempre em busca de algo ou alguém. Olhando por uns instantes, pela janela de meu carro, enquanto o sinal estava fechado, pude perceber que o que acontece ali é singular, ou seja, não há paralelos com o que acontece nos demais bairros ou mesmo no centro da cidade. Parece ser um universo a parte.

Saindo do centro e passando pelo elevado, já é possível sentir a diferença da dinâmica do ir e vir em relação a outros lugares. Por ali muitos estudantes podem ser vistos nas paradas de ônibus. Fiquei parado por alguns instantes atrás do ônibus enquanto observava os carros passando na pista contrária, apressados. Com o carro em movimento vejo pela pista da esquerda um frenesi para chegar primeiro logo ali na frente onde já ficam parados em fila, esperando para virar à esquerda. Nesse dia já sabia que deveria seguir pela faixa da direita, mesmo que fique atrás de um ônibus ou caminhão, mas daí não ficaria esperando na fila.

No segundo semáforo, parei e passei a observar os diversos estabelecimentos comerciais e a circulação de pessoas. Numa das lojas de roupas, uma moça recolhe os manequins da frente, enquanto uma senhora passa por ali com uma criança e olham a vitrine com curiosidade. Mais à frente um rapaz passa correndo na calçada, parecia que queria pegar um estabelecimento comercial ainda aberto. Corria de chinelas com habilidade. Já não tenho essa destreza. Outra senhora carregada de sacolas corre para o ponto de ônibus. Correr parece ser o lema ali. Mais à frente, no semáforo outra senhora vendendo doces. Percebi que não daria tempo de ela chegar até meu carro, pois o sinal já ia abrir. Nesse momento lembrei que sempre guardo algumas moedas para ajudar essas pessoas nos semáforos, pois se estão ali é porque estão precisando.

Minha renda é baixa, sou operário, mas não me importo de dividir com pessoas que tenham menos renda ainda. Do outro lado pessoas apressadas em seus veículos. Um grita de dentro do carro com o outro motorista, raivoso e impaciente buzina alto e sai blasfemando. Do meu lado na calçada, uma barraquinha, de onde saía fumaça, preparando alimentos para quem passa por ali na correria, sem tempo de jantar, para ir talvez ao trabalho ou mesmo para a faculdade. Quantas histórias no fim do dia. Imaginava naquele instante, quantas vidas cruzadas, quantas subjetividades, sonhos contidos, realizados, outros não. Pessoas a largos passos na calçada com um lanche na mão, buzinas, placas das lojas com seus anúncios luminosos, anunciando que logo a noite virá.

Os passarinhos ciscando no acostamento, alguns grãos caídos dos caminhões antes de se acomodarem em seus ninhos nas árvores, as motos que se entrelaçam por entre os carros… Olhando cada detalhe naquele final de tarde dando asas a imaginação, sou interrompido pelo ônibus a minha frente que começa a se movimentar. Logo adiante ele dobrou a direita e pude enfim olhar no horizonte e apreciar o final de tarde na Efapi. Ao longe no horizonte os raios do sol deixavam seus rastros de cor laranja e revelava toda a beleza do entardecer, que se apresentou ainda mais belo quando eu ainda passava no elevado. Ali, ao avistar uma fila de carros no horizonte, não pude deixar de apreciar aquele espetáculo da natureza que cobria com seu manto tudo que acontece nesse bairro, que é movimento, que corre no final de tarde, uma infinidade de destinos, de sonhos, desejos, e mais um dia se passou com a efervescência do início da noite no bairro Efapi.

Fui para minha aula. Um abraço leitor.

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