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Cerimonial real britânico: esplendor de um conto de fadas?

Leia a coluna de Vitor Marcelo Vieira na Quinta da Opinião

A imaginação, quando acompanha cerimoniais da monarquia, nos remete aos contos de fadas, e podemos observar isso com a morte da Rainha Elizabeth II. As transmissões pela televisão ou internet, nos levam a uma viagem por esses contos do século XVIII na Europa.

Sim, toda vez que há um cerimonial real britânico, parece que entramos num mundo de príncipes, princesas e plebeus, e é exatamente isso que acontece nesses rituais. Eles seguem uma tradição de longa data, sempre tendo como referência um passado glorioso de reis e rainhas. Porém, em cada época, esses rituais têm características diferentes, ou seja, dependem do contexto social e econômico em que são realizados.

Esta semana o Rei Charles III vestiu um kilt, traje considerado uma das mais antigas tradições escocesas. Esse traje surgiu depois de 1726 e se tornou tradição pela necessidade de usá-lo no início do século XVIII nas Terras Altas.

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Foi aprovada uma lei, permitindo seu uso pelos montanheses, pois a indumentaria era conveniente para os viajantes, para que pudessem saltar de pedra em pedra, vadeando brejos e dormindo ao relento nos montes, além de ser convenientemente barato.

Atribui-se sua criação a Thomas Rawlinson, que pertencia a uma família tradicional do ramo madeireiro. Ele viu no kilt uma peça prática para seus operários e contratou um alfaiate. Naquele contexto, o saiote tinha um status servil, idealizado por um industrial quaker inglês, que não o impôs aos montanheses para preservar o estilo de vida deles, mas para facilitar a transformação deste modo de vida, tirando-os das montanhas e trazendo-os para a fábrica.

Podemos afirmar que, em termos de tradição, a população inglesa sempre teve um gosto secular pela magia da monarquia e seus rituais, que mudara com o passar do tempo. Para compreendê-los, é preciso observar o contexto econômico, social e político em que eles se realizavam.

Numa circunstância, um cerimonial poderia significar um apelo ao nacionalismo. Já avançando no tempo, o mesmo ritual poderia significar para os contemporâneos, ou seja, as pessoas que o assistiam, um desejo coletivo de reviver as glórias do passado – e a imaginação passa por aqui também.

Em qualquer ponto do município de Chapecó e região, se perguntarmos às pessoas se elas já ouviram falar da monarquia inglesa, quase que certamente dirão que sim. O que significa isso? Uma vontade de reviver o passado? De viver um conto de fadas?

No mínimo se percebe um fenômeno que diferencia os adolescentes e crianças de Chapecó e região dos anos 1980 e 1990 da geração atual: o encantamento pela monarquia inglesa. Como historiador, vejo que entre estudantes do Ensino Médio e Fundamental, há um grande interesse pelas coisas da monarquia e pela Rainha Elizabeth II – a rainha mais pop da monarquia, que já apareceu em filmes e até desenhos animados.

Destaco outra situação que já ocorreu em cerimoniais fúnebres de reis e rainhas no passado e que se repete: a exploração comercial intensa. Sem dúvida, muitos irão lucrar com a fabricação e venda de medalhas, artigos de porcelana e outros artefatos relacionados a rainha.

Organização dos cerimoniais: breve histórico

Podemos destacar quatro fases dos cerimoniais da monarquia. A primeira vai de pouco antes de década de 1820 até a década de 1870. Esse foi um período de ritual mal organizado, numa Inglaterra provincial.

A segunda fase se iniciou em 1887 – quando a Rainha Vitória foi proclamada imperatriz da Índia e foi até o início da Primeira Guerra Mundial, época em que os cerimoniais eram exibidos com beleza antes inexistente.

De 1918 até a coroação da Rainha Elizabeth em 1953, veio o período em que os britânicos se convenceram de que eram mestres na arte do cerimonial. Desde 1953 o seu significado sofre uma nova transformação com a penetração da transmissão dos rituais pela televisão.

Os britânicos sempre se viram como superiores, como líderes do progresso na Era Vitoriana, quando os cerimoniais eram mal organizados. Entendiam que não havia necessidade de se exibirem, por se considerarem os arautos do progresso.

A maioria dos cerimoniais nos primeiros três quartos do século XIX eram um verdadeiro fiasco. Em 1817, nos funerais da Princesa Carlota, os agentes funerários estavam bêbados. Dez anos mais tarde na morte do Duque de York, a Capela de Windsor estava tão úmida que a maioria dos presentes pegaram resfriado.

O Bispo de Londres morreu devido ao resfriado. A coroação da Rainha Vitória também foi desorganizada. Não foi ensaiada nenhuma vez e os ministros não sabiam a hora de falar. O Arcebispo de Cantuária não conseguia colocar o anel no dedo correto da rainha e dois pajens conversaram a cerimonia inteira.

No início do século XX os cerimoniais começaram a ficar mais suntuosos e a Igreja Católica pegou carona, quando surgiram composições musicais como a “Marcha Imperial”, a “Ode à Coroação”, o arranjo coral da “Pompa e Circunstância nº 1” e a “Marcha da Coroação”.

Contudo, o grande salto foi a chegada da Rádio BBC. Ela começou, em 1932, a transmitir o Natal de Jorge V – o monarca foi um radialista bem-sucedido. O primeiro diretor da BBC, Sir John Reith reconheceu rapidamente o poder do novo meio de comunicação na transmissão dos cerimoniais.

Todas as ocasiões reais eram transmitidas ao vivo pelo rádio com os microfones dispostos de maneira que os ouvintes pudessem distinguir os sons dos sinos, das carruagens, dos cavalos e dos aplausos. Foi uma revolução que deu notoriedade à família real.

As transmissões alcançavam recordes de audiência. Na metade do século XX as carruagens estavam deixando de ser usadas, numa sociedade que já construía tanques de guerra, aeroplanos e a bomba atômica. Na época da coroação de Elizabeth, faltaram carruagens para acomodar nobres e chefes de Estado e a solução foi pedir emprestadas sete carruagens de uma companhia cinematográfica.

A última grande cerimônia que celebrou o império e a monarquia, foi a coroação de Elizabeth II em 1953. As vestes da rainha traziam bordados os emblemas dos Domínios; os regimentos da Comunidade Britânica e as tropas coloniais desfilaram.

A Grã-Bretanha era uma potência. E foi a primeira vez que se fabricaram itens comemorativos em massa. Em 1953 a Birmingham Corporation ofereceu brindes às crianças do lugar como uma Bíblia, um exemplar do livro Elizabeth Our Queen, de Richard Dimbleby, um jogo de garfo e colher, duas canecas comemorativas, uma lata de chocolate, lapiseiras, um canivete ou um prato com o retrato da rainha.

Também foram produzidos selos comemorativos e medalhas. A coroação de Elizabeth II foi uma ponte entre uma era antiga e uma nova fase de desenvolvimento, quando o grande público assistiu o evento pela televisão – Elizabeth foi a primeira monarca coroada à vista do povo, que jamais havia vivido a cerimônia dessa maneira.

A cobertura dos grandes cerimoniais ressaltou o esplendor dos contos de fada que a BBC buscou promover. Sobre os rituais que estamos acompanhando atualmente, vou falar nos próximos escritos.

Museu do Rádio: local de conhecimento e pesquisa

Gostaria ainda, em rápidas pinceladas, dizer que o Grupo Condá de Comunicação está sempre inovando e se conectando às novas tecnologias e tendências na área do conhecimento e pesquisa. Apresenta em breve um museu temático, o Museu do Rádio.

E aqui aproveito para dizer que caminha na direção da atual tendência da rede de museus do Brasil, ou seja, de se tornar um atrativo para as pessoas, além de mais um local turístico em Chapecó.

O turismo museal já é uma realidade e as pessoas cada vez mais visitam museus pelo país. Também abordarei esse assunto nos meus próximos escritos. Parabéns, Luciana Lang e Grupo Condá de Comunicação. Um grande abraço e até a próxima oportunidade.

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