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Chapecoense uma história de superação e glória

Veja a matéria especial

Imagem: DivulgaçãO/Redes Sociais

Uma caminhada pelo centro de Chapecó, onde turistas encontram uma catedral, monumentos, praças e barracas de rua com artigos indígenas em direção ao estádio, dá uma noção da relação entre o local e o Clube Chapecoense de Futebol. Quando a Arena se torna visível no horizonte, até a guia da calçada vira verde e branco. Para quem visita Chapecó parece uma coisa só: uma comunidade de 260 mil habitantes, longe dos grandes centros urbanos e esportivos do país, representada por uma equipe que mesmo nos seus altos e baixos alcançou grandes conquistas no futebol. A maior delas, há sete anos, foi interrompida por um traumático acidente que vitimou 71 pessoas entre jogadores, comissão técnica, dirigentes e jornalistas, em 29 de novembro de 2016.

Naquele momento, o time iria jogar a final da Copa Sul-Americana de 2016. Seguia para a Colômbia para disputar a primeira partida da decisão contra o Atlético Nacional de Medellín.   

O time da Chapecoense estava prestes a viver o momento mais glorioso de sua história. A viagem começou na tarde do dia 28 de novembro no aeroporto de Guarulhos em São Paulo. O voo da companhia aérea boliviana “Boa” até a cidade de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, durou cerca de três horas. O trajeto final foi num voo fretado da companhia Lamia, também boliviana. 

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A chegada ao aeroporto José María Córdova, em Medellin, estava prevista para cerca de 22 horas, horário local. A poucos minutos da aterrissagem, o avião se chocou com o monte conhecido como Cerro El Gordo, de 2.600 metros de altitude. As investigações sobre as causas do acidente concluíram que a aeronave não sofreu nenhum problema técnico, e que a queda ocorreu por uma pane seca causada pela falta de combustível.

Setenta e uma pessoas morreram na tragédia: 19 jogadores e 20 jornalistas. Entre os seis sobreviventes, três jogadores, um jornalista e dois tripulantes.

A NOTÍCIA CHEGA A CHAPECÓ 

Quando a notícia chegou a Chapecó, já na madrugada do dia 29, os 209 mil habitantes na época, foram sendo despertados pelos relatos da tragédia e a cidade mergulhou na dor e no luto. Do sonho de uma conquista esportiva para o pesadelo inimaginável: os chapecoenses tinham perdido seus jogadores, seus dirigentes e jornalistas que relataram a vitória tão esperada. E só havia um lugar onde eles queriam estar: na Arena Condá, o estádio do clube, o estádio dos Chapecoenses.

Na noite daquela quarta-feira, quando o time deveria estar jogando em Medellín, os torcedores lotaram as arquibancadas para chorar, cantar o hino e gritar a saudação que tinha guardada no peito: “É campeão!”. Simultaneamente, em Medellin, colombianos lotaram o estádio Atanásio Girardot, onde o jogo contra a Chapecoense deveria ocorrer, para homenagear o time brasileiro.

O luto de Chapecó se espalhou pelo Brasil e pelo mundo. Nas redes sociais, torcedores de equipes adversárias começaram a pintar de verde os distintivos de seus próprios times e a frase: “Somos Chape”. Era o início da reação para reconstruir o sonho e o time.

Naquele momento não era preciso ser chapecoense ou torcedor para se emocionar durante as homenagens daquela quarta-feira à noite, na Arena Condá. Jornalistas, profissionais da saúde, policiais, idosos e crianças. Amantes do clube ou não, todos levaram as mãos ao rosto para enxugar as lágrimas durante as quase duas horas de cerimônia. Foi um dos momentos mais comoventes desde o anúncio. No estádio lotado, com capacidade para 20 mil pessoas, a dor foi coletiva. O sentimento não tinha espaço para rivalidade.

OS CORPOS CHEGAM A CHAPECÓ 

Em Chapecó, o grito da torcida ecoava na arquibancada: “O campeão voltou!”.  

Aos gritos de “o campeão voltou”, os corpos de 50 das 71 vítimas do acidente aéreo com a delegação da Chapecoense entraram na Arena Condá, em Chapecó, banhada pela chuva e pelas lágrimas das milhares de pessoas presentes. Os caixões foram colocados debaixo de uma tenda montada no gramado do estádio, com os dizeres “nas alegrias e nas horas mais difíceis, meu furacão, tu és sempre um vencedor”, trecho do hino oficial da Chape. 

Ao lado dos corpos, familiares, amigos e companheiros de time das vítimas não conseguiam conter a emoção, assim como na arquibancada, onde torcedores ignoravam a chuva e permaneciam em pé, aplaudindo em silêncio a delegação da Chapecoense. 

SETE ANOS DEPOIS DA TRAGÉDIA FAMILIARES SEGUEM O CAMINHO DE SEUS ENTES

A ressignificação da dor e da perda também trouxe outra visão sobre a vida e a família. Há 7 anos, Dhay Pallaoro, 37 anos, filha do eterno presidente Sandro Pallaoro, na época era publicitária, hoje é empresária em homenagem ao pai e trabalha com logística de produtos alimentícios, empresa essa, em que Sandro administrava além do clube.

Imagem: Arquivo Pessoal/ Dhay e Sandro 

Seguindo o passo do Pai, com a mesma rotina, entretanto ainda é permeada pela saudade, “Lembro dele todos os dias, e lembro com muito carinho e muito orgulho por que ele acaba estando presente em nosso dia a dia, e de diversas formas, tanto pela questão do trabalho, nossa relação e pela questão da cidade das importâncias que ele deixou como um todo, um legado dele, e de toda a diretoria que foi para toda a cidade de Chapecó, que quando você se tem um sonho e acreditar nele, você batalhar por ele tudo isso é possível e não interessa o tamanho”, lembra Dhay. 

“Sempre amaroso”, é assim que Dhay recorda como era a convivência com o pai “Era um pai extremamente presente, carinhoso, amoroso, era aquele pai que chegava e conversava para ver como a gente estava, corrigia se tinha algo de errado. Então, ele era um pai muito presente na minha vida e do meu irmão”, recorda. 

Imagem: Arquivo Pessoal/ Duda Sandro, Matheus, Dhayane e Daniel 

“Tenho certeza que o Davi morreu feliz, porque era uma grande paixão da vida dele o time da Chapecoense” é assim que Roze Dávi lembra do marido Davi Barrela Dávi, mais um entre as vítimas da tragédia da Chapecoense. 

“Para essa viagem a Medellín, Davi e eu, havíamos combinado de ir assistir o jogo por que a gente acompanhava a Chapecoense, dentro do Brasil e até pra fora do Brasil, então sempre acompanhavamos o time, e nesse jogo em Medellin houve o convite para o Davi acompanhar, aí meu filho o Pablo falou pra ele ir, porque era muito legal acompanhar o time, pois o Pablo já tinha acompanhado a Chapecoense com esse mesmo avião e esse mesmo piloto em uma viagem anterior. Aí o Pablo falou, vai, porque é uma experiência incrível e inesquecível, você tem que ir. Então eu tenho certeza que o Davi morreu feliz, porque era uma grande paixão da vida dele a Chapecoense, e duvido se perguntassem para cada Chapecoense quem não gostaria de estar lá assistindo aquela partida, ninguém diria que não, pois era uma partida de um título internacional, foi o primeiro time de Santa Catarina, a disputar um título internacional. Então o Davi foi muito feliz com essa partida, isso também é algo que nos conforta, porque era algo que ele queria naquele momento”, disse Roze Dávi. 

Roze Dávi, recorda ainda que a empresa Nostra Casa e a família Dávi em especial, sempre foram muito ligadas ao time da Chapecoense, desde a construção do time, e seus primeiros diretores técnicos.

Nossa família sempre teve participação com a construção da Chapecoense, desde os primórdios, eu tenho fotos aqui do meu sogro que era dono do palácio dos esportes, no campo de Xaxim entregando a primeira camisa de treino para a Chapecoense, eu tenho fotos do meu sogro entregando para o presidente da época que era o Lotário Immich (in memoria), e sempre teve participação, e o seu Davi, meu sogro, no dia dos jogo da Chape, isso a vida inteira, umas duas horas de começar o jogo, ele fazia um foguetório porque ele falava que não adiantava soltar foguete na hora do jogo, tem que soltar um pouco antes para lembrar o pessoal que hoje tem jogo, então isso foi um amor que foi transferido para a família”, recorda com carinho Roze.

Roze destaca ainda o papel fundamental que a família, mas principalmente Davi tinha pelo time Chapecoense, “Nas épocas das “vacas magras” que tinham que sair passando o chapéu no comércio em Chapecó, além é claro da contribuição direta que a Nostra Casa fazia para a Chapecoense, começando nas placas do estádio e pelas marcas. Por muito tempo a Nostra Casa teve a marca no estádio. O Davi sempre teve uma participação muito efetiva na Chapecoense, quando tinha um incêndio para apagar ou que tinha que conversar com alguém, o Davi era solicitado, ele era muito diplomático, o Davi sabia conversar, ajustar as pontas”, enfatiza Roze. 

Átrio Daví Barela Dávi

Em dezembro de 2017, o grupo Nostra Casa inaugurou o Átrio Daví Barela Dávi, um espaço dedicado a contar a história do maior luto que Chapecó já presenciou. Local de contemplação, simbologia de amor reavivado no mundo inteiro. Uma forma de agradecer as energias positivas emitidas pelo mundo todo, tornando-se assim uma bela área de paz e de reflexão.

Átrio significa o local que antecede um espaço principal. Neste caso antecede a Arena Condá, palco de grandes emoções, onde choramos e nos alegramos por muitas vezes.

Conforme Roze Davi, o espaço foi construído em menos de 20 dias, por mãos  que não mediram esforços para transformar o local, onde hoje é procurado por quem passa pela cidade.  “Este é mais um presente do Grupo Nostra Casa à Chapecó e à história da Associação Chapecoense de Futebol. O Átrio Daví Barela Dávi é um exemplo de que uma cidade é construída por todos, com união, atitude e boas ideias. A Lei ganhou vida com o pedido do Grupo Nostra Casa para adotar este espaço ao lado da Arena Condá com o objetivo de revitalizar a área de 1.286 metros quadrados, eternizando os guerreiros da Associação Chapecoense. A Administração Municipal também enviou à Câmara de Vereadores Projeto de Lei para nomear o espaço adotado de “Átrio Daví Barela Dávi”. Os vereadores aprovaram por unanimidade”, recorda.

Imagem: Comunicação Nostra Casa

Roze recorda ainda os dias de trabalho na construção do espaço, mas mesmo com chuva, jamais desanimou quem estava ajudando a construir o local que ficaria marcado para quem chega no estádio. “ Lembro que muitas vezes choveu, e trabalhamos debaixo de chuva e todos com muita vontade e disposição, foi algo lindo de ver como aquilo foi construído, então realmente, é um espaço de muito amor, aquela parte central, nós procuramos contemplar a todos que estavam no avião, lembro que algumas pessoas, nos diziam, há, mas vocês vão pôr o nome do piloto da tripulação, e nós dizíamos que não era nós quem íamos julgar, até por que quem iria por sua vida em risco, em sã consciência? Ninguém iria por, então não somos nós quem vamos julgar e vamos dizer, você fica de fora e você não. Lá estão todos os nomes, contornando o lago, 71 luzes verdes e 71 quedas d’água representam as vítimas. Na borda externa foi colocado um revestimento em aço, com o nome de cada um dos eternos guerreiros bordados a laser”, finaliza Roze 

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