
Mesmo após afirmar que “espera não ser necessário usar armas nucleares” no conflito contra a Ucrânia, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, mantém acesa a preocupação global quanto à escalada militar. A fala foi feita em um documentário comemorativo dos 25 anos de sua ascensão ao poder, veiculado neste domingo (4), e repercutiu entre autoridades e especialistas, que alertam para o uso estratégico da retórica nuclear.
Segundo Vitelio Brustolin, pesquisador da Universidade Federal Fluminense e de Harvard, o discurso de Putin soa como uma “chantagem nuclear velada”, uma forma de intimidar o Ocidente e manter a pressão sobre Kiev e seus aliados. “Mesmo quando diz não querer usar, ele sinaliza que essa opção permanece na mesa”, explica o especialista.
A tensão se agrava pelo fato de que, em novembro de 2024.Moscou atualizou sua doutrina militar para permitir o uso de armas nucleares em resposta a ataques convencionais de países não nucleares — desde que apoiados por potências nucleares. Essa mudança amplia consideravelmente os cenários de possível acionamento do arsenal russo, algo que preocupa profundamente a comunidade internacional.
Na avaliação de analistas militares, Putin utiliza a ameaça atômica como ferramenta geopolítica, especialmente diante do contínuo apoio militar dos Estados Unidos e da Europa à Ucrânia. Mesmo sem movimentações concretas em direção ao uso de armas nucleares, o simples fato de a Rússia manter essa possibilidade em seu discurso já impõe um clima de instabilidade e temor.
“A declaração é cuidadosamente calculada para manter o Ocidente em alerta”, conclui Brustolin. Assim, embora verbalmente moderado, o posicionamento do Kremlin ainda reforça a sombra da guerra nuclear sobre o cenário internacional.