
Antes de 2001, o dia 11 de setembro só tinha uma grande recordação para quem era da América Latina, pelo menos, em função do aniversário do golpe de Estado ocorrido no Chile em 1973, que abriu um período ditatorial de 16 anos e meio liderado por Augusto Pinochet. Depois dos atentados nos Estados Unidos, o 11 de setembro também se tornou o dia da recordação do que representou aqueles crimes no contexto da segurança internacional, e de quantas dores tivemos que sentir com as 3 mil vidas levadas naquela vergonha.
Entretanto, quero deixar nesta edição da coluna o fim do julgamento da tentativa de golpe de Estado no Brasil em segundo plano, porque o dia de ontem (11), para mim e para os Estados Unidos, foi um dia para falar de vida, e não de dosimetria de pena. Em casa, minha vó Magali chegou à tarde, depois de receber alta do Hospital São Paulo de Xanxerê após uma cirurgia de troca de válvula no coração. Foram 18 dias de internação, entre pré e pós-operatório, incluindo uma semana de UTI. Aqui, a vida venceu.
Já na terra do Tio Sam, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, abriu seu discurso no Pentágono em alusão ao aniversário dos atentados prestando homenagem a Charlie Kirk, aliado conservador assassinado um dia antes durante um evento universitário no estado de Utah. Conforme a newsletter The News, o presidente anunciou que concederá ao ativista a Medalha Presidencial da Liberdade de forma póstuma, exaltando-o como “a voz de uma geração”.
O ataque ocorreu segundos após o ativista mencionar a relação de pessoas trans com tiroteios em massa. Segundo investigações, a bala usada no crime estava gravada com símbolos de ideologia transgênero e antifascista. O caso imediatamente repercutiu na política dos Estados Unidos, reacendendo o debate sobre a escalada da violência política. Aqui, a vida perdeu.
A endemia da violência política
O fato é que esses acontecimentos não se limitam somente ao cenário americano. Nos últimos anos, vários políticos e ativistas de diferentes ideologias políticas sofreram tentativas de assassinato ao redor do mundo, o que fez com que a capa da revista Time, a mais lida dos Estados Unidos, tenha em destaque a palavra “chega”, reforçando a posição editorial de combate à violência política.
Ligados à esquerda, temos o exemplo de Marielle Franco, morta a tiros em março de 2018, no Rio de Janeiro. Nos Estados Unidos, Josh Shapiro, governador da Pensilvânia, teve sua casa incendiada em abril deste ano; e Melissa Hortman, deputada democrata, foi morta em sua casa há três meses.
Ligados à direita, temos no Brasil o exemplo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que sofreu uma facada em setembro de 2018. No Japão, Shinzo Abe, ex-premiê do Japão, foi morto após ser baleado em julho de 2022. Na Colômbia, Miguel Uribe, pré-candidato à presidência da Colômbia, foi morto após ser baleado em um comício há três meses; ena Ucrânia, Andriy Parubiy, ex-presidente do parlamento ucraniano, foi assassinado a tiros no mês passado.
Charlie Kirk era um jovem líder que defendia suas ideias e que tinha como costume ir à universidade debater com pessoas de ideologias distintas, de forma cristã e respeitosa. A tendência que se consolida ao redor do mundo constata um ataque à liberdade de expressão e ao poder de pensamento crítico. Fica a pergunta: esse ataque também não ocorreu dentro da 1ª turma do STF nesse julgamento totalmente torto?
Recadinhos
- O Brasil segue atrás na corrida pela educação. Segundo relatório da OCDE, o gasto público por aluno da educação básica no país em 2024 foi menos de US$ 3.900, apenas 31% da média dos países ricos, que investem US$ 12.400
- Conforme a The News, entre todos os países avaliados, o Brasil teve o 4° menor investimento por estudante, à frente apenas de México,África do Sul e Turquia.
- Na prática, o Brasil até destina uma parcela maior do PIB para a educação (4,9%) em relação a outros países (4,7%). Porém, o que nos diferencia, e nos joga para baixo na classificação, é que temos muito mais estudantes, 39 milhões no total.
- Não pense que o fenômeno se resume aos alunos. No Brasil, um professor do ensino fundamental recebe, em média, R$ 11 mil, quase metade da média internacional.