
Gostaria de aproveitar o início da Semana da Pátria deste ano para refletir sobre uma postura do brasileiro que pode ser qualificada como uma das poucas demonstrações de patriotismo que temos no nosso dia a dia: a hospitalidade, o acolhimento. Poucos povos no mundo conseguem ser tão hospitaleiros quanto o brasileiro, e muitos povos são os que rasgam elogios para a nossa forma de acolher quem vem ao nosso país a turismo ou a trabalho.
Para isso, quero recordar alguém que já citei nesta coluna quando o assunto é a comunidade venezuelana em Chapecó: Alexander Aragol, um dos 17 mil venezuelanos que moram em Chapecó. Em uma análise publicada em suas redes sociais hoje (1º), Aragol faz uma reflexão sobre os casos de xenofobia que são registrados contra a comunidade estrangeira na região.
É importante lembrar que os cerca de 500 mil venezuelanos que escolheram o Brasil como casa, decidiram que aqui eles teriam condições melhores de reconstrução de vida do que outros países que receberam fluxos até maiores de imigrantes: “Porém, em meio a tantas histórias de superação e contribuição, ainda vemos, infelizmente, algumas manifestações xenofóbicas nas redes sociais vindas de alguns brasileiros — e aqui vale ressaltar: não são todos, mas uma parcela que insiste em generalizar”, afirma Aragol.
É verdade que existem venezuelanos que cometem erros e agem de forma contrária à lei, assim como acontece em qualquer nacionalidade. Mas reduzir uma nação inteira a poucos exemplos negativos é, no mínimo, injusto, aponta Alexander: “A grande realidade é que a maioria dos venezuelanos que estão no Brasil respeitam as leis, cumprem normas, trabalham honestamente e contribuem para o desenvolvimento econômico e social deste grande país”, sustenta o imigrante.
Também é importante lembrar que os venezuelanos são pessoas que pagam impostos, geram renda, ocupam funções essenciais e participam ativamente no processo de construção coletiva. Principalmente, por estarem trabalhando em lugares que os chapecoenses nativos há muito tempo já sinalizaram ao mercado que não querem estar, a exemplo do “chão de fábrica” dos frigoríficos.
Alexander afirma que o Brasil é gigante não apenas em território, mas também em coração: “Um país que historicamente sempre recebeu povos de diferentes culturas e fez disso a sua maior riqueza”, e é verdade. Nós não fazemos ideia do coração que nós temos. Tivemos consciência do que a comunidade venezuelana passava e oferecemos emprego, ajuda de primeira necessidade e oportunidade de organização. A diversidade é uma força, não uma ameaça, e praticamos isso de forma institucional, principalmente através do Estado.
Portanto, precisamos olhar com mais empatia e discernimento o que nós já fizemos, e não tínhamos a obrigação de fazer: “criticar quem erra é justo, mas atacar um povo inteiro por atitudes isoladas não é. Que prevaleça o respeito, a humanidade e a consciência de que, juntos, brasileiros e venezuelanos, seguimos fortalecendo os laços de fraternidade e construindo um futuro mais digno para todos”, conclui Aragol.
Recadinhos
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que vai assinar uma ordem executiva exigindo a identificação de eleitores em todos os votos nos EUA.
Conforme a newsletter The News, o republicano, que ainda alega fraude nas eleições presidenciais de 2020, também defende o fim das urnas eletrônicas em favor de cédulas manuais.
Na visão de um brasileiro, nada mais óbvio do que exigir a identidade de quem quer exercer o direito ao voto, mas nada mais burro do que voltar a ter uma contagem 100% manual da votação.
Pela primeira vez, partidos populistas de direita ou extrema-direita lideram as pesquisas nas três maiores economias da Europa: Reino Unido, França e Alemanha. Efeito Trump na geopolítica dos países desenvolvidos?