quarta-feira, maio 14, 2025
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Na CPI das Bets, o decoro parlamentar não aposta

Confira a coluna do jornalista André de Lazzari

Foto: ClicRDC

Com um moletom estampado com o rosto da filha, garrafinha rosa da WePink, sua marca de beleza, e muitos goles d’água, a influencer, apresentadora de TV e empresária Virgínia Fonseca protagonizou uma das sessões mais atípicas já vistas no Senado ontem (13), em depoimento à CPI das Bets. O depoimento foi marcado por momentos um tanto quanto incomuns, como o pedido de selfie feito pelo senador Cleitinho (Republicanos-MG) e o instante em que Virginia tentou beber do microfone achando que era o canudo da garrafa.

A CPI quer entender até que ponto influenciadores como Virginia, com mais de 50 milhões de seguidores, ajudam a normalizar o vício em apostas, vendendo o jogo como oportunidade disfarçada. Conforme a newsletter The News, Fonseca disse que sempre alertou sobre os riscos e que nunca lucrou com as perdas dos seguidores. No entanto, usou o direito ao silêncio para não revelar os valores dos contratos com plataformas como Blaze e Esportes da Sorte.

Parte da CPI, e da população, acredita que os influenciadores lucram com as perdas, além de “normalizarem” o azar e incentivar a ruína financeira dos viciados jogadores. A relatora da comissão, senadora Soraya Thronicke (União–MS), falou em “caixa da desgraça alheia”. Por outro lado, muita gente concorda com o que a questão que a própria Virgínia levantou na sessão: “Se não pudesse divulgar, não deveriam ter bets regulamentadas. Que proíbam tudo, então.”

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O senador Cleitinho, por exemplo, usou seu tempo para dizer que ela é “geradora de riqueza”, que os políticos não têm moral para julgá-la e ainda pediu uma foto para a esposa. Aqui, um dos parlamentares da Câmara Alta de maior engajamento desta legislatura, a meu ver, quebrou o decoro parlamentar, pois o depoimento equivalia a um julgamento, se observados os direitos constitucionais dos senadores, ou seja, Virginia podia sair da sala da CPI presa em flagrante, o que já ocorreu com outras pessoas ao longo da história.

Os “tigrinhos da vida” já movimentaram de R$ 20 a R$ 30 bilhões por mês no Brasil durante o primeiro trimestre deste ano. Estima-se que 22 milhões de brasileiros apostaram nos últimos 30 dias, 42% deles estão endividados e mais de um terço não tem emprego. As ruas e as redes sociais estão cheias de pessoas dizendo que a CPI não passa de um “circo” para esconder o escândalo do INSS, com o timing perfeito. Discordo e muito.

Por mais irresponsabilidades que alguns senadores cometam nesta comissão parlamentar de inquérito, essa é uma instância que deveria chamar a atenção do país tanto quanto a fraude na Seguridade Social. Famílias estão sendo destruídas todos os dias pelo vício do jogo, que precisa ter sua publicidade regulada e restringida. Haverá um lobby contra, mas leiam o relatório desta CPI, quando ela acabar, e depois venham me dizer se não tenho razão.

Recadinhos

  • * Morreu ontem José “Pepe” Mujica, ex-presidente do Uruguai e símbolo da esquerda latino-americana. Ex-guerrilheiro e com passagem pela prisão por 15 anos durante a ditadura uruguaia, o político lutava contra um câncer em estágio terminal.
    * A Ucrânia pediu que o Brasil use sua “voz competente” para convencer Putin a participar de um encontro com Zelensky amanhã, em Istambul, na Turquia.
    * O pedido foi feito pelo chanceler ucraniano ao Itamaraty meses após Kiev ter rejeitado o papel do Brasil como mediador na guerra. Volta o cão arrependido? Antes, o Brasil tem uma voz competente nesse assunto?
    * R$ 14 bilhões é o valor que poderia ser destinado a projetos sociais pelo Imposto de Renda de pessoas físicas, sem custar a mais para os contribuintes, segundo a Receita Federal. Ainda assim, em 2024, apenas 2,43% desse valor foi destinado.

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