
O cientista político Caleb Bentes, diretor da D’América Consultoria Geopolítica para Negócios de Videira, enviou à esta coluna uma nova análise do cenário econômico e empregatício de Chapecó, com base nos dados do Novo CAGED do mês de agosto. Novamente colaborando com este espaço de opinião, Caleb afirma que agosto marca, em Chapecó, um ponto de observação interessante sobre a relação entre conjuntura macroeconômica e dinâmica local. Por isso, estamos expondo a análise nas edições de ontem (7) e hoje (8) da coluna.
O governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para Caleb, adota uma postura abertamente protecionista, não apenas em relação à China ou à Índia, mas também ao Brasil e diversos outros países, com o objetivo de repatriar indústrias, proteger empregos e fortalecer o setor produtivo interno: “Esse movimento insere-se em uma disputa mais ampla pela redefinição das cadeias globais de valor e pela reconstrução do poder industrial ocidental”, afirma.
No entanto, para Bentes, Chapecó, com sua base agroindustrial voltada ao abastecimento interno e à exportação regional, sente apenas efeitos indiretos desse processo: “A economia local não depende do mercado americano, e o aumento de suas exportações em meio ao protecionismo global reforça justamente sua capacidade de operar de forma independente”.
Análise política
Na terça-feira (6), houve o primeiro contato direto entre o presidente Lula (PT) e Donald Trump para tratar da questão tarifária, aumentando a expectativa de uma flexibilização nas tarifas até o fim do ano: “Ainda que se espere alguma amenização temporária das tarifas, é provável que o setor madeireiro continue sujeito a tarifa elevada, ainda que venha a ser reduzida”, aponta Caleb.
Essa condição afeta de maneira mais aguda regiões como Caçador, cuja base exportadora depende fortemente de produtos madeireiros, e ajuda a explicar o desempenho expressivamente negativo do município no mês de agosto (saldo negativo em 373 vagas). Chapecó, por sua vez, conforme Bentes, preserva imunidade a esse tipo de choque, em grande medida pela natureza de sua pauta exportadora e pela densidade de seu mercado interno, que sustenta boa parte da dinâmica de emprego e renda.
Conforme Caleb, ainda que agosto tenha sido um mês de saldo negativo em 15 vagas de emprego, a tendência permanece de crescimento sustentado, alimentada pela consolidação de Chapecó como polo regional da agroindústria, logística e serviços: “Há, contudo, um ponto que precisamos prestar atenção. A qualificação da mão de obra. Chapecó enfrenta um desafio para o seu futuro econômico”, afirma.
Para Bentes, embora o município apresente um dos melhores desempenhos de Santa Catarina na geração de empregos formais, a qualidade e a sofisticação desses empregos ainda não acompanham plenamente as exigências do mercado contemporâneo: “A dificuldade em atrair e reter mão de obra qualificada limita o avanço tecnológico e o ganho de produtividade em alguns segmentos, especialmente na indústria de transformação e nos serviços especializados”.
Recadinhos
- Bentes assinala que mais do que crescer em número de empregos, Chapecó precisa avançar na qualidade das ocupações, fortalecendo o elo entre educação técnica, setor produtivo e desenvolvimento local.
- Para Caleb, enquanto Caçador e outras cidades enfrentam retrações expressivas em razão da dependência setorial e da exposição às tarifas americanas, Chapecó demonstra autonomia e estabilidade.
- Bentes afirma que Chapecó construiu ao longo das últimas décadas uma economia policêntrica, com base em empresas locais de médio e grande porte, integradas às cadeias regionais e globais.
- Para Caleb, o desafio, daqui em diante, é consolidar essa força em qualidade, sofisticando sua base produtiva, qualificando a mão de obra e ampliando sua inserção nas novas cadeias regionais.