
O cientista político Caleb Bentes, de Videira, enviou à esta coluna uma análise do cenário econômico e empregatício de Chapecó, no recorte entre janeiro e julho deste ano. Para ele, o anúncio da tarifa norte-americana de 50% no início do mês de julho gerou, naturalmente, apreensão entre analistas, empresários e investidores, mas é preciso destacar que seu impacto imediato sobre Chapecó é praticamente nulo.
Caleb aponta que, ao contrário de municípios como Caçador, altamente dependente da madeira e derivados, consideravelmente atingidos pela medida, a base produtiva chapecoense segue sustentada na agroindústria e em cadeias de transformação que possuem diversificação de destinos e mercados: “O efeito observado nos números de julho está muito mais ligado à sinalização, à percepção de risco e incerteza, do que a qualquer impacto direto nas exportações locais”.
Dentro da movimentação setorial, a construção civil volta a registrar um resultado negativo, com saldo de -18 vagas, marcando o terceiro mês consecutivo de retração: “Isso indica uma tendência que merece atenção, pois a construção é tradicionalmente um setor indutor de crescimento, multiplicador de renda e consumo”, comenta Bentes.
Por outro lado, a indústria se mantém como verdadeiro esteio da economia local, registrando saldo positivo de 244 empregos em julho e sustentando o crescimento acumulado do ano: “Essa robustez confirma a capacidade de Chapecó de manter sua vocação produtiva industrial mesmo em meio a um ambiente nacional marcado por incertezas e por políticas de crédito restritivo”, analisa Caleb.
Comércio e serviços também contribuíram positivamente, com saldos de 159 e 127 postos, respectivamente, sustentando o saldo de 525 empregos formais no mês e um acumulado de 4.270 no ano, o que coloca Chapecó como a 2ª cidade com maior saldo de empregos em Santa Catarina nos sete primeiros meses do ano; atrás apenas de Joinville com saldo de 6.915.
No plano macroeconômico, o Brasil atravessa um momento de contenção: “A Selic em 15% encarece capital de giro, limita investimentos produtivos e posterga decisões de expansão que dependem de crédito tradicional. A inflação segue pressionada, principalmente por alimentos, petróleo e energia, reduzindo o poder de compra e encurtando o fôlego do consumo”, comenta Bentes.
O horizonte de médio prazo, contudo, traz perspectivas de uma flexibilização gradual da taxa básica de juros a partir de meados de 2026, o que pode devolver algum dinamismo ao crédito e ao mercado interno, afirma Caleb: “Até lá, o quadro nacional seguirá de baixo crescimento, com expansão dependente do setor externo e de políticas de estímulo. Chapecó, porém, se encontra em uma condição favorável”.
A estrutura produtiva exportadora de Chapecó, baseada em agroindústria de proteínas e indústrias integradas, garante, na visão de Bentes, um ciclo econômico menos dependente do ciclo nacional e mais articulado com cadeias internacionais: “Isso significa que, mesmo em um ambiente nacional de consumo desaquecido e crédito caro, o município consegue manter um desempenho positivo e, em certa medida, independente”.
O desafio, conforme Caleb, é transformar a dinâmica em sofisticação, ampliando a qualificação da mão de obra, investindo em inovação e preparando o setor produtivo para lidar não apenas com a volatilidade do mercado internacional, mas também com as exigências cada vez maiores de rastreabilidade, sustentabilidade e eficiência produtiva: “Chapecó demonstra que sua base econômica tem estrutura para se adaptar e preservar um ciclo de crescimento mesmo diante de adversidades externas”, conclui.
Recadinhos
- O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deveria abrir mão de uma possível candidatura à Presidência e apoiar outro candidato, apontam 74% dos entrevistados pela pesquisa Genial/Quaest divulgada hoje (18) por Maria Clara Matos, da CNN.
- A quantidade dos que optaram pela desistência de Bolsonaro e apoio a outro candidato cresceu 21 pontos percentuais em um mês. Em agosto, momento da última pesquisa, os que compartilhavam a opinião eram 53%.
- A mesma pesquisa apurou que 59% dos brasileiros não querem que o presidente Lula (PT) tente a reeleição no ano que vem, o que conforme a CNN, abre caminho para que Geraldo Alckmin (PSB) tente a Presidência com o apoio do PT.
- Ainda assim, Lula ganha em todos os cenários de 2º turno simulados pela Genial/Quaest, que envolvem Jair e Eduardo Bolsonaro (PL), Tarcísio de Freitas (Republicanos), Ciro Gomes (PDT), Ratinho Júnior (PSD), entre outros.