Ouça a coluna:
Estimado deputado federal Pedro Uczai (PT-SC),
Como jornalista de ainda breve carreira, você foi o parlamentar federal que mais vezes entrevistei até hoje, o que não é bom, porque acabo por ter menor conhecimento do trabalho e das questões pessoais dos demais deputados federais de nossa bancada catarinense, a qual o senhor quer presidir esse ano. Reconhecido pelo candidato que o derrotou nas últimas eleições municipais em Chapecó, você é um político qualificado, o maior parlamentar da esquerda em Santa Catarina e, por trabalho, um homem de respeito.
Entretanto, esta mesma Chapecó, que lhe fez ser o segundo deputado federal mais votado nas eleições de 2022, com 21.763 dos 173.531 votos que lhe reelegeram, expressou no início do ano passado, e novamente no sábado (25), após apuração do jornalismo da Condá FM, um profundo repúdio ao programa Pé-de-Meia, que criou uma bolsa de permanência para estudantes do Ensino Médio de baixa renda no Brasil. Como sabemos, a lei que institui o projeto foi aprovada por unanimidade no Congresso Nacional.
Seu trabalho como relator do projeto de lei foi importante e histórico, pois fez parte do convencimento de toda a oposição ao governo Lula para votar favorável a esta ideia. Todavia, o Tribunal de Contas da União (TCU) bloqueou, por medida cautelar proposta pelo ministro Augusto Nardes, aceita por unanimidade pelo plenário, os R$ 6 bilhões que eram transferidos do fundo FGEduc, destinado para execução do Fies, para o fundo Fipem, que executa o Pé-de-Meia.
O TCU afirma que não houve autorização do Congresso Nacional para uso do FGEduc para financiamento da bolsa de permanência no Ensino Médio. Fica a pergunta: deputado Pedro, você observou esse detalhe enquanto relator da matéria? Se sim, o que deu errado? Se não, porquê não observou? Os outros 593 parlamentares do Congresso confiaram no senhor quando votaram favoráveis ao Pé-de-Meia, e agora, parte da oposição já defende que um vício contábil desses pode ser entendido como pedalada fiscal.
Eu sei que o deputado sabe, mas vou repetir, porque o jornalismo regional é incumbido de expressar a opinião (devidamente filtrada) da comunidade local: o povo de Chapecó não quer beneficiários do Pé-de-Meia, não quer impostos federais sendo entregues a estudantes de baixa renda, quer que adolescentes trabalhem cedo e ganhem o quanto antes sua independência financeira, quer mais escolas cívico-militares e, entre outras coisas, não quer mais mentiras.
Lamento ter de escrever isso, deputado, mas culpar a extrema-direita e/ou o bolsonarismo pelo possível colapso de uma iniciativa tão importante para a educação de milhões de adolescentes no Brasil não é prudente. Entendo que o senhor deve estar decepcionado pelo que aconteceu, e sabe que isso pode ser revertido juridicamente, entretanto, o que você pensa não é o que o seu reduto eleitoral pensa, e inclusive parte dos seus eleitores. Bem ou mal, essa é a realidade.
Pelo que foi expresso pela população, não apenas no sábado, mas em outras oportunidades também, é que a prioridade do trabalho de quem representa o Oeste Catarinense no Congresso Nacional deve ser a pauta de costumes e a articulação para tirar o máximo de investimentos federais possíveis para a região, até porque, volta muito pouco do que pagamos de impostos para Brasília. Esta região se sente injustiçada e pode até estar bitolada, mas em muito tem razão de reclamar.
Sou defensor de uma educação de qualidade, e sei que o deputado será nomeado para ser o relator do Plano Nacional da Educação, a lei mais importante do ensino brasileiro. Essa lei é o Plano Diretor para a estrutura da educação nacional pelos próximos 10 anos. Desejo ao senhor um ótimo trabalho.
Recadinhos
- A matéria do ClicRDC mais comentada desse fim de semana foi a apuração feita pelo jornalismo da Condá FM do vídeo publicado pelo deputado Pedro nas redes sociais.
- Nossa redação pediu uma manifestação do deputado após o bloqueio dos valores do FGEduc que iam ao Pé-de-Meia pelo TCU na quarta-feira (22), e obteve como resposta da assessoria o mesmo vídeo publicado nas redes sociais do deputado.
- Cerca de mil comentários foram registrados na matéria do ClicRDC, e com base neles, escrevi esta carta aberta para resumir em uma publicação jornalística toda a indignação dos nossos internautas.
- Todos nós temos o direito de discordar daquilo que, mesmo em consenso, é executado por qualquer governo em qualquer lugar do mundo, mesmo que esse governo crie retaliações para tal. Somos cidadãos, e isso significa muito.