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Mais de 60 comentários foram feitos à coluna de ontem (24), que abordou a opinião dos comentaristas da Condá FM sobre a Operação Sem Desconto da Polícia Federal, deflagrada na quarta-feira (23), para investigar a fraude de R$ 6,3 bilhões no INSS que custou o cargo de Alessandro Stefanutto como presidente do Instituto. Para a surpresa de alguns, a operação foi polarizada pelos internautas, e vamos resumir a discussão na edição de hoje.
Primeiramente, cabe ressaltar a concordância de muitos leitores ao que falei ontem, de que a fraude do INSS é apenas o início de uma nova novela de corrupção no país, muito pela investigação de fraude no FGTS que afeta muitos trabalhadores do Rio de Janeiro. Alguns internautas opinam que a Polícia Federal só pôde realizar a operação porque não houve interferência externa do Governo Federal, relembrando as sucessivas trocas de delegados ocorridas na época em que Jair Bolsonaro (PL) era presidente.
Um internauta afirmou que o PT e a corrupção “sempre andaram lado a lado”: “Se o governo Bolsonaro tem alguém envolvido, que se investigue e puna. Agora ver os escândalos do mensalão, petrolão, triplex, INSS e outras dezenas de crimes e ainda assim apoiar, não é burrice, é mau caratismo”. Concordo com o leitor, entretanto, comentários como esse mostram que a polarização política cega as falhas estruturais do Estado brasileiro em combater fraudes como a que ocorreu na Previdência.
O comentário que mais repercutiu provocou os apoiadores do atual governo: “O presidente (do INSS) foi escolhido pelo PT, o irmão do ‘mula’ tá envolvido até o pescoço, tem roubalheira pra escolher e vocês defendendo? Olhem o absurdo dos gastos em luxo, viagens pelo mundo, comitivas de mais de cem pessoas em cada viagem, R$ 4 milhões pro Gilberto Gil e vocês aplaudindo? Vão ao (Hospital) Regional pra ver o desespero das pessoas em busca de tratamento. Coloquem a mão na consciência e caiam na realidade”.
De fato, Stefanutto foi nomeado pelo Ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT), em julho de 2023. Entretanto, o exemplo usado pela internauta sobre o HRO foi questionado por outros internautas, até porque a responsabilidade de financiamento da unidade hospitalar é do Governo de Santa Catarina. Mesmo assim, a internauta que fez o comentário do parágrafo anterior insistiu em uma responsabilidade federal por causa do SUS ser nacional.
Esse fato me recorda a estratégia que comentei na edição do dia 15 de abril da coluna, em que o Governo Federal pensa em trocar dívidas de hospitais e operadoras com a União por cirurgias e exames realizados na rede privada, a fim de acelerar os atendimentos e dar visibilidade à ação federal. No Planalto, há o receio de que, sem medidas fora da estrutura tradicional do SUS, o crédito político vá para estados e municípios, responsáveis pela maior parte da gestão da saúde.
- Desde que Lula voltou ao Palácio do Planalto em 2023, a dívida bruta saltou de 72% do PIB para 77%, e os especialistas já projetam que supere os 80% neste ano, conforme a revista Veja. A fraude no INSS dá uma ajudinha nessa projeção.
- Importante lembrar que a corrupção na Previdência se deu desde 2019, ou seja, os quatro anos do governo Bolsonaro estão sob esta investigação, que começou ainda em 2024.
- Entretanto, foi o próprio ex-presidente que, em 2019, editou uma medida provisória, aprovada pelo Congresso Nacional, para colocar regras nos Acordos de Cooperação Técnica que agora se mostram fraudulentos.
- Em 2022, o mesmo Congresso derrubou a medida, e desde então, o escalonamento do dinheiro furtado foi exponencial. Conforme a Controladoria-Geral da União, a diferença entre 2023 e 2024 no valor apropriado subiu 133%.