
Se você não falou sobre, com certeza ouviu alguém falando. O youtuber Felca publicou, na última semana, um vídeo intitulado “Adultização”, no qual denuncia a exploração de menores em conteúdo digital, e que já acumula dezenas de milhões de visualizações. Conforme a newsletter The News, entre os citados no vídeo está o influenciador Hytalo Santos, alvo de investigação do Ministério Público da Paraíba por possíveis casos de aliciamento de menores.
Em resposta à repercussão do vídeo, o perfil de Hytalo foi suspenso no Instagram. A repercussão foi tanta, que até o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), usou suas redes sociais para afirmar que o tema seria pauta na Casa esta semana. Entretanto, o grupo de trabalho para formular o projeto sobre segurança de crianças na internet terá 30 dias para colocar em pauta um texto para votação, conforme a Agência Câmara de Notícias. Ou seja, urgência sim, mas não tanto assim.
A grande verdade dessa história é que nós, enquanto brasileiros, estamos sendo extremamente hipócritas. Não temos a cultura de educar as crianças de forma correta, dedicada e com apoio independente. Preferimos deixar os guris e as gurias ficarem no celular em vez de serem levadas a ler livros, brincar com brinquedos físicos, aprender desde cedo as tarefas domésticas, praticar esportes e/ou exercícios físicos e conversar com os pais todos os dias.
O dinheiro fala mais alto do que o bom senso. A mesquinharia que vivemos pelo medo de não conseguir colocar a comida na nossa mesa nos impede de pensar em alternativas e se posicionar como pais responsáveis, que tem presença diária e constante na vida dos filhos. O vício no trabalho e a vontade de fazer aquilo que nós queremos fazer (lazer, intimidade com o cônjuge, etc) em vez de fazer o que é necessário com as crianças, vence a nossa comunidade majoritariamente, e na maioria dos casos.
E como ninguém faz nada sozinho, obviamente, os pais que realmente querem educar seus filhos sempre tem apoio, gratuito inclusive. Pense nos Programas Atleta do Futuro e Arte Cidadã, da Prefeitura de Chapecó, que colocam atividades que podem ser replicadas e intensificadas em casa. E o que falar do trabalho dos departamentos infantis das igrejas evangélicas e católicas, e da responsabilidade que os pais tem em instruir os seus filhos nas orientações bíblicas?
Não é hora apenas de protestar, mas de refletir onde nós, enquanto responsáveis por uma geração que já dá sinais de graves problemas, estamos errando. Apesar de não ter filhos, e nunca ter tido nenhum relacionamento amoroso, utilizo nesta edição da coluna a primeira pessoa do plural para que todos os leitores se sintam culpados, porque sim, em maior ou menor medida, todos somos culpados por termos deixado a adultização prosperar no Brasil.
Recadinhos
Estudar e trabalhar podem ser um combo perfeito para o desenvolvimento da educação. Pelo menos é o que aponta o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf).
A pesquisa mostra que 65% dos jovens brasileiros de 15 a 29 anos que conseguem trabalhar e estudar têm alfabetismo consolidado, ou seja, conseguem interpretar textos complexos e lidar com números maiores.
Conforme o The News, por outro lado, quando se olha para quem apenas estuda, o índice de alfabetismo consolidado cai para 43%, e o de analfabetismo funcional sobe para 14%.
Apesar de não comprovar relação de causa e efeito, a pesquisa indica que a inserção no mercado, especialmente durante a formação escolar, contribui para o desenvolvimento de habilidades de leitura e escrita.