
Enquanto o mercado reage com pessimismo ao balanço do segundo trimestre da WEG — que apresentou lucro líquido de R$ 1,59 bilhão e receita superior a R$ 10 bilhões —, é importante colocar esses números em perspectiva. O resultado ficou levemente abaixo das projeções de analistas, mas representa crescimento sólido em relação ao mesmo período de 2024. Em qualquer contexto normal, seria motivo de celebração. O que vemos, porém, é um movimento de curto prazo pressionado pela volatilidade global e pela notícia das novas tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros.
Mas a WEG não é uma empresa comum. Fundada em 1961 em Jaraguá do Sul (SC) por Werner Ricardo Voigt, Eggon João da Silva e Geraldo Werninghaus — cujas iniciais deram origem ao nome da companhia —, a WEG saiu de uma pequena fábrica de motores para se tornar uma multinacional presente em mais de 130 países. Hoje, conta com mais de 40 mil colaboradores e fábricas no Brasil, México, China, Índia, Portugal e Estados Unidos. Em 2007, a empresa já faturava R$ 3 bilhões; em 2024, ultrapassou R$ 37 bilhões em receita líquida, consolidando-se como uma das maiores fabricantes de equipamentos elétricos do mundo.
Sua ascensão global é comparável à de gigantes como a alemã Siemens e a suíça ABB. Enquanto essas empresas competem em mercados maduros e diversificados, a WEG conseguiu expandir-se a partir de um país emergente, sem abrir mão da eficiência operacional. A margem EBITDA da companhia gira em torno de 20% a 22%, patamar que rivaliza com concorrentes globais e é considerado elevado para o setor industrial.
A atual preocupação com as tarifas norte-americanas precisa ser relativizada. Historicamente, a WEG demonstrou grande capacidade de adaptação diante de crises. Nos anos 1990, enfrentou a abertura comercial brasileira e a concorrência estrangeira; na década seguinte, investiu fortemente em energia renovável para se proteger da dependência de motores convencionais. Agora, a empresa planeja redirecionar parte da produção para plantas no México e Índia, mantendo o acesso ao mercado dos EUA — movimento estratégico que pode neutralizar boa parte do impacto das tarifas.
Outro ponto pouco comentado é a diversificação do portfólio. Hoje, a WEG vai muito além de motores elétricos: atua em automação industrial, geração eólica e solar, mobilidade elétrica e soluções para a transição energética — setores com enorme potencial de crescimento nas próximas décadas. Essa diversificação coloca a empresa na linha de frente das megatendências globais de descarbonização e digitalização industrial.
Para o investidor de longo prazo, a queda recente das ações pode ser vista mais como oportunidade do que como alerta. Trata-se de uma companhia com fundamentos sólidos, caixa robusto, presença global e uma trajetória comprovada de inovação. Oscilações trimestrais não mudam o fato de que a WEG é uma das raras histórias de sucesso industrial do Brasil — uma empresa que compete de igual para igual com gigantes globais e que simboliza o potencial do país de produzir tecnologia de ponta.
Nos próximos 12 a 18 meses, o mercado acompanhará de perto como a WEG irá mitigar o impacto das tarifas americanas e acelerar sua adaptação logística. Analistas projetam que, caso consiga redirecionar parte das exportações e manter margens acima de 20%, a companhia pode retomar um ciclo de valorização consistente a partir de 2026, especialmente com o avanço dos projetos de energia renovável e mobilidade elétrica. Para quem busca investir com horizonte de médio a longo prazo, a WEG continua sendo um dos ativos mais estratégicos da Bolsa brasileira — não apenas pelo potencial de retorno, mas pela solidez de um modelo de negócios construído para resistir e prosperar em qualquer cenário.