
A Assembleia Geral da ONU costuma ser palco de embates diplomáticos, discursos inflamados e disputas de narrativa. Ontem, porém, um detalhe roubou a cena: o encontro entre o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente norte-americano Donald Trump.
De um lado, Lula abriu a reunião reafirmando bandeiras históricas do Brasil — combate à fome, defesa da soberania nacional e críticas ao unilateralismo. De outro, Trump foi direto ao estilo que lhe é peculiar: confrontou a ONU, minimizou a agenda climática e atacou políticas migratórias globais. Até aí, nada novo. O que surpreendeu foi o tom cordial que ambos adotaram no breve contato nos bastidores.
Trump relatou que os dois tiveram “39 segundos de excelente química” — uma frase que pode soar caricata, mas que revela algo maior: a disposição de diálogo. O ex-presidente americano, conhecido pelo temperamento explosivo, escolheu valorizar Lula, chamando-o de “um homem simpático” e reforçando a intenção de um encontro formal na próxima semana.
Lula, por sua vez, não tem muito espaço para recusar esse gesto. O Brasil precisa cultivar pontes, especialmente com a maior economia do planeta. Ao aceitar a reunião, Lula demonstra pragmatismo: manter um canal aberto com Trump pode significar ganhos concretos em comércio, investimentos e diplomacia, sem que isso signifique abrir mão de sua agenda própria.
É inegável que Trump saiu em vantagem nesse episódio. Primeiro, porque conseguiu ditar o tom da narrativa internacional ao transformar um encontro protocolar em símbolo de aproximação. Segundo, porque colocou Lula diante de um compromisso público: o encontro da próxima semana. Ao destacar a “boa química” e oferecer a mão, Trump deslocou Lula da defensiva e se apresentou como líder capaz de conduzir relações, mesmo com governos de outra orientação política.
A diplomacia não vive de simpatias, mas de interesses. E, nesse jogo, Trump mostrou astúcia: foi cortês sem perder o protagonismo, foi firme sem ser hostil, e ainda colocou a bola no campo de Lula. A ver como o presidente brasileiro vai jogar quando os dois se encontrarem frente a frente — por mais de 39 segundos.