
Pela primeira vez desde o início da série histórica do IBGE, Santa Catarina conquistou o posto de estado com o maior saldo migratório do Brasil. Entre 2017 e 2022, mais de 354 mil pessoas se mudaram para cá, consolidando uma tendência que, até pouco tempo atrás, era protagonizada por São Paulo. O que explica esse fenômeno? Mais do que números, estamos diante de uma mudança estrutural no imaginário social e econômico do país.
Os dados revelam que os catarinenses estão no centro de uma reconfiguração nacional dos fluxos migratórios. O Rio de Janeiro, por exemplo, perdeu mais de 165 mil moradores. Maranhão, Distrito Federal, Pará e até São Paulo também tiveram saldo negativo. Em contrapartida, além de SC, estados como Goiás, Minas Gerais e Paraná ganharam população. O Brasil está em movimento — e esse movimento aponta para o Sul.
O atrativo catarinense não é apenas geográfico. É simbólico. Em um país marcado por desigualdades, Santa Catarina tem se destacado por oferecer um pacote raro de qualidades: baixo índice de violência, infraestrutura urbana acima da média, educação pública com desempenho destacado e, principalmente, um mercado de trabalho aquecido e diversificado. Aqui, o setor produtivo pulsa com força, da indústria ao agronegócio, do turismo às startups.
Não é coincidência que muitos dos que vêm são do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e até da Região Norte. Buscam segurança, estabilidade e oportunidades. E encontram cidades como Chapecó, Blumenau, Joinville e Lages com polos de crescimento acelerado, universidades fortes e um tecido social mais coeso do que em muitos centros urbanos do Sudeste.
Mas esse protagonismo migratório impõe novos desafios. O crescimento populacional pressiona a oferta de moradias, o transporte urbano, os serviços públicos. Em regiões como o Oeste e o Litoral Norte, já se percebe uma explosão imobiliária que precisa ser acompanhada por planejamento urbano sério e sustentável. Sem isso, corremos o risco de transformar nossa vantagem em passivo.
Outro ponto que merece atenção é o risco da homogeneização cultural. Santa Catarina tem uma identidade forte, mas deve estar aberta à diversidade que os novos moradores trazem. Um estado que cresce também precisa se reinventar — sem perder suas raízes, mas com a coragem de acolher o novo.
Santa Catarina, hoje, é um exemplo do Brasil que dá certo. Cabe a todos — governos, empresas e sociedade civil — garantir que esse exemplo não se perca no improviso ou na euforia do crescimento. Porque receber bem é mais do que abrir as portas. É construir um projeto de futuro.