sexta-feira, outubro 24, 2025
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Renda acima da média? O retrato real do trabalhador por aplicativo no Brasil

Confira a coluna do professor Dr. Givanildo Silva

Prof. Givanildo Silva – Doutor em Ciências Contábeis e Administração.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou recentemente um dado que, à primeira vista, soa otimista: trabalhadores por aplicativo possuem renda mensal superior à média dos ocupados no país. Mas, como quase tudo na economia, o diabo mora nos detalhes.

De acordo com a pesquisa, quem atua via aplicativos — motoristas, entregadores e prestadores de serviços diversos — ganha em média R$ 2.996 por mês, contra R$ 2.875 dos trabalhadores tradicionais. Uma diferença de pouco mais de 4%. O número, porém, engana quem não lê a nota de rodapé: essa renda maior é fruto de jornadas mais longas, que beiram 45 horas semanais, contra 39 horas dos demais. Quando se observa o rendimento por hora, o encanto se desfaz — R$ 15,40 para o trabalhador de aplicativo, abaixo dos R$ 16,80 dos não plataformizados.

Ou seja: o “ganho maior” vem à custa de mais tempo na rua, mais combustível gasto, mais desgaste físico e mental. O lucro líquido — aquele que realmente chega ao bolso, descontados custos com veículo, alimentação e manutenção — provavelmente é bem menor do que sugere o número oficial.

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Outro dado que preocupa é a informalidade. Mais de 70% desses trabalhadores não possuem contribuição previdenciária. Trabalham muito, produzem renda, mas seguem desprotegidos. A economia de plataformas, exaltada por sua flexibilidade, tem produzido uma massa de autônomos que operam sem segurança social, dependentes de algoritmos e sem garantias mínimas de estabilidade.

Há, é claro, um lado positivo: para quem possui baixa escolaridade, o trabalho via aplicativo elevou a renda média. Porém, entre os mais qualificados, o efeito é inverso — o subemprego digital rebaixa a remuneração de quem investiu em formação. É um paradoxo de uma economia que se moderniza em tecnologia, mas retrocede em direitos.

O avanço desse modelo impõe desafios estratégicos para governos e empresas. Cidades precisam lidar com o impacto urbano da economia de aplicativos — trânsito, poluição, uso do espaço público — enquanto o país discute a regulação de um setor que cresce sem moldura jurídica adequada. Já as empresas, ao terceirizar responsabilidades, reforçam um modelo que valoriza a eficiência, mas esquece o humano.

O dado do IBGE é um alerta: a renda média não é tudo. O que realmente importa é o valor da hora de vida que cada pessoa entrega para sobreviver. E, nesse cálculo, a conta dos aplicativos ainda não fecha.

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