
Poucas expressões causam tanto medo no brasileiro quanto “reforma tributária”. Não é exagero. Sempre que esse tema volta ao debate, a sensação geral é a mesma: alguém vai pagar mais — e, quase sempre, esse alguém é o consumidor comum ou o pequeno empresário.
O discurso oficial é bonito. Dizem que o sistema atual é confuso, injusto e cheio de distorções. E isso é verdade. O Brasil construiu, ao longo de décadas, um emaranhado de impostos sobre consumo, serviços e produção que nem especialistas conseguem explicar sem uma lousa cheia de setas. Simplificar é necessário. O problema é como essa simplificação está sendo feita — e quem realmente vai pagar a conta no final.
A nova estrutura promete acabar com vários impostos antigos e substituí-los por um modelo mais “limpo”, baseado na ideia de que o imposto incide sobre o valor agregado em cada etapa da cadeia produtiva. Em tese, parece racional. Na prática, porém, o que se vê é a criação de um sistema centralizado, altamente dependente de regulamentação futura e com alíquotas que ainda ninguém consegue afirmar, com segurança, quanto vão custar no caixa do supermercado ou na nota do prestador de serviço.
O governo garante que não haverá aumento da carga tributária. Mas essa promessa já foi feita antes — e raramente cumprida. Quando se somam exceções, regimes especiais, imposto seletivo sobre determinados produtos e a necessidade de manter a arrecadação pública em alta, a conta não fecha sem alguém sentir no bolso.
Outro ponto pouco debatido é o impacto nos serviços. O Brasil é um país que gera emprego principalmente nesse setor: médicos, dentistas, engenheiros, professores, pequenos escritórios, prestadores autônomos. Muitos deles hoje pagam menos imposto porque têm poucos insumos para gerar crédito tributário. No novo modelo, isso pode mudar — e mudar para pior.
Há também a transição. Durante anos, empresas e consumidores terão que conviver com dois sistemas ao mesmo tempo: o velho e o novo. Isso significa custo, confusão, adaptação de sistemas, treinamento de pessoas e, inevitavelmente, erros. Quem é grande consegue absorver. Quem é pequeno sente mais.
É claro que o sistema atual é ruim. Mas trocar algo ruim por algo incerto não é, necessariamente, um avanço. Reforma tributária boa é aquela que simplifica de verdade, reduz custo, estimula quem produz e trabalha e não transforma promessa em aumento silencioso de imposto.
O brasileiro não aguenta mais pagar caro por tudo e receber pouco em troca. Se a reforma não vier acompanhada de responsabilidade fiscal, controle de gastos públicos e respeito a quem gera riqueza, ela corre o risco de ser apenas mais uma mudança no papel — com a mesma velha conta chegando no final do mês.
Simplificar, sim. Iludir, não.




