terça-feira, setembro 30, 2025
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Recuperação Judicial no campo: Cuidar da terra e da saúde mental do agricultor

Confira a coluna do professor Dr. Givanildo Silva

Prof. Givanildo Silva – Doutor em Ciências Contábeis e Administração.

A crise que se instala no campo brasileiro não é feita apenas de números, contratos e safras perdidas. É feita também de noites mal dormidas, do peso da dívida que parece não ter fim, da angústia que corrói famílias inteiras. Quando falamos em recuperação judicial para produtores rurais, estamos falando menos de balanços contábeis e mais de gente: de saúde mental, de dignidade e de sobrevivência emocional.

O peso invisível da dívida

O produtor rural vive em um ambiente de risco permanente: seca, enchente, pragas, oscilação cambial, custos de insumos dolarizados. Quando essas pressões se acumulam e o crédito se torna impagável, não é apenas a propriedade que está em jogo — é a autoestima de quem carrega a tradição da terra e a responsabilidade de alimentar milhares de famílias.

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A dívida não é apenas um número no extrato bancário; ela se transforma em ansiedade, depressão e até em tragédias pessoais. Estudos recentes apontam índices de suicídio no campo superiores à média nacional. Por trás de cada execução judicial ou leilão de fazenda, existe um drama humano que reverbera em toda a comunidade.

Recuperação Judicial como terapia coletiva

A recuperação judicial não deve ser vista apenas como um mecanismo jurídico. Ela é, em muitos casos, um alívio emocional. Os 180 dias de suspensão das execuções funcionam como uma pausa para respirar, reorganizar e negociar. Mais que isso, são 180 dias para recuperar também a clareza mental e devolver esperança a quem já não via saída.

Ao oferecer um espaço de negociação, a RJ também protege famílias que, sem essa ferramenta, seriam esmagadas por execuções simultâneas. A continuidade da atividade rural mantém empregos, renda e, sobretudo, dá ao produtor a chance de se sentir novamente protagonista da própria história.

Família: a outra face da crise

No campo, negócios e família quase sempre se confundem. Fiadores e avalistas costumam ser parentes, muitas vezes irmãos, filhos ou cônjuges. A crise financeira, portanto, não atinge apenas o produtor, mas dilacera vínculos afetivos, gerando ressentimento e desconfiança.

A recuperação judicial, ao menos em parte, ajuda a preservar essas relações. Permite que as negociações ocorram em ambiente regulado, diminuindo o peso das cobranças pessoais e oferecendo um caminho institucionalizado para reestruturação das dívidas.

O preconceito que adoece

Muitos ainda enxergam o produtor rural que pede RJ como “caloteiro” ou “mau pagador”. Essa visão é injusta e perversa. O agricultor não controla a chuva, nem o câmbio, nem o preço da soja em Chicago. Condená-lo moralmente apenas agrava sua dor e aumenta o risco de adoecimento psíquico. Precisamos ressignificar a recuperação judicial como um direito de quem luta, não como um atestado de fracasso.

Terra fértil também precisa de cuidado emocional

É hora de olhar para a recuperação judicial do produtor rural não só como uma ferramenta econômica, mas como uma política de saúde mental. Ao dar fôlego a quem produz, ela previne tragédias pessoais, fortalece famílias e protege comunidades inteiras.

O Brasil não pode se esquecer: quando o produtor rural adoece, adoece também a segurança alimentar e emocional de todos nós. Apoiar sua recuperação é semear dignidade, esperança e futuro.

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