
As imagens da Casa Branca nesta segunda-feira (18) revelam mais do que um encontro diplomático: mostram o retorno de Donald Trump ao epicentro da política internacional, conduzindo, à sua maneira, a pauta mais delicada do nosso tempo — a guerra na Ucrânia. Ao reunir-se com líderes europeus e o presidente Volodymyr Zelenskyy, Trump buscou projetar duas mensagens claras: que é capaz de abrir um novo canal de negociação direta com Vladimir Putin e que, diferente da era Biden, seu governo pretende jogar a responsabilidade da segurança europeia justamente onde ela deve estar — na Europa.
De um lado, a proposta europeia, liderada pela italiana Giorgia Meloni e apoiada por Emmanuel Macron, de criar garantias robustas no estilo OTAN para a Ucrânia, soa ousada e, ao mesmo tempo, arriscada. Afinal, trata-se de prometer a Kiev um escudo que até hoje a própria Aliança Atlântica hesitou em conceder integralmente. O gesto europeu sinaliza uma virada histórica: não esperar mais que Washington faça todo o trabalho pesado da segurança continental.
Do outro, Trump adota sua velha estratégia de negociação dura. Rejeitou a exigência de um cessar-fogo imediato, afirmando que não é condição necessária para sentar Putin e Zelenskyy à mesa. É um cálculo típico de empresário — não travar o negócio antes de iniciar a conversa. Pode soar insensível, mas talvez seja a única maneira de destravar um impasse que já dura mais de dois anos e sangra a economia global.
Críticos apontam que Trump busca mais protagonismo pessoal do que uma solução sustentável. Não é à toa que, em meio à reunião, interrompeu a agenda para ligar diretamente a Putin. A encenação, claro, é parte do estilo. Mas, em política internacional, símbolos importam. E o símbolo de um presidente americano arrancando uma promessa de encontro entre Moscou e Kiev tem peso — ainda que os desdobramentos sejam incertos.
A Europa, por sua vez, vive um dilema: agradecer pelo impulso diplomático de Trump ou desconfiar de seu pragmatismo calculado. Macron, Meloni e Ursula von der Leyen elogiaram publicamente a postura americana. Mas nos bastidores, a dúvida persiste: Trump quer uma paz estável ou apenas um troféu político para exibir ao eleitorado?
O fato é que, pela primeira vez em meses, há um sopro de otimismo em torno da palavra “negociação”. Se a promessa de um encontro trilateral entre Trump, Putin e Zelenskyy se concretizar, estaremos diante do momento mais crítico desde o início da invasão russa. Não será a paz definitiva, mas poderá ser o início de um redesenho geopolítico no qual a Europa assume seu papel de guardiã do continente e os EUA atuam como facilitadores, não como tutores.
Em tempos de guerra prolongada, até um gesto teatral pode abrir uma janela de oportunidade. Resta saber se Trump conseguirá transformar o espetáculo em diplomacia concreta — e se a Europa, finalmente, aceitará carregar o peso de sua própria segurança.