
A recente pesquisa Genial/Quaest, divulgada em 4 de junho, trouxe uma revelação tão previsível quanto preocupante: 31% dos brasileiros consideram que o governo Lula é o principal responsável pelos desvios de recursos do INSS. O dado, ainda que não impute culpa jurídica, aponta uma culpa política e simbólica que, para muitos brasileiros, pesa até mais do que qualquer sentença.
O escândalo em questão não é pequeno. Desde o fim de 2023, aposentados passaram a relatar descontos indevidos em seus benefícios, fruto de parcerias irregulares entre entidades e o próprio INSS. Uma rede complexa de fraudes foi sendo desvendada, culminando na operação “Sem Desconto”, da Polícia Federal, que levou ao afastamento de altos dirigentes do Instituto. A Controladoria-Geral da União e o Ministério Público Federal seguem investigando.
Mas o que a pesquisa revela vai além do escândalo em si. Ela mostra como a população, diante da falência de garantias institucionais, atribui a quem governa a responsabilidade última por tudo — inclusive por ações herdadas ou cometidas à revelia. Quando 31% dizem que Lula é o “principal responsável” e outros 14% culpam o próprio INSS, o recado é claro: a confiança na capacidade do Estado de proteger os mais vulneráveis está esgarçada.
Seria injusto afirmar que Lula cometeu pessoalmente qualquer irregularidade. Não há, até o momento, qualquer evidência que aponte nesse sentido. O que existe é uma indignação crescente com a lentidão das respostas, com a forma como o governo comunicou o problema e com a sensação de impunidade estrutural que continua pairando.
Aliás, 50% dos entrevistados defendem a abertura de uma CPI para investigar o caso, ainda que a Polícia Federal já esteja agindo. A demanda por uma CPI não é necessariamente sinal de desconfiança na PF — mas sim uma exigência por transparência máxima e responsabilização política. O cidadão comum quer ver rostos, ouvir explicações públicas e saber, com todas as letras, quem deixou isso acontecer.
A pesquisa também aponta que 52% acreditam que a devolução do dinheiro desviado deve ser feita apenas com os recursos bloqueados das entidades investigadas. É uma mensagem pragmática — o brasileiro quer justiça sem novos rombos ao Tesouro. Já 41% entendem que, se for necessário, o governo deve usar recursos públicos. Aqui se nota uma disposição mais solidária, mas também o reconhecimento de que o prejuízo foi causado, em última instância, por falhas estatais.
Para Lula, o impacto é direto: sua desaprovação bateu 57%, a maior desde o início do mandato. Em um governo que tenta equilibrar uma narrativa de reconstrução social com realismo fiscal, escândalos como esse não são apenas pedras no caminho — são abismos de confiança.
Cabe ao presidente agir com mais do que medidas administrativas. É preciso reconhecer a dor dos aposentados, explicar com firmeza o que foi feito para coibir as fraudes e garantir que episódios semelhantes não se repitam. O Brasil precisa mais do que culpados — precisa de líderes que assumam a responsabilidade política, mesmo quando a culpa jurídica não recai sobre eles.
Porque governar, afinal, é responder por tudo o que se permite acontecer. Mesmo — e especialmente — aquilo que foi feito nas sombr