
Vivemos numa era de decisões instantâneas. Clicamos antes de refletir. Julgamos antes de conhecer. Compramos antes de comparar. E, muitas vezes, erramos – feio. O livro “Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar”, de Daniel Kahneman, nos convida a desacelerar a mente. E, honestamente, esse convite nunca foi tão urgente.
Kahneman, psicólogo premiado com o Nobel de Economia, mostra que nossa mente opera por dois sistemas: o rápido (intuitivo) e o devagar (analítico). O primeiro resolve boa parte do cotidiano. É útil, eficiente e, na maioria das vezes, confiável. Mas é também impulsivo, preguiçoso e cheio de atalhos mentais que distorcem a realidade. Já o segundo, o pensar devagar, exige esforço, raciocínio e autocontrole – algo raro em tempos de feed infinito e notificações constantes.
Nosso mundo premia a velocidade: quem responde rápido, quem decide rápido, quem reage rápido. Mas o preço da pressa é pago em silêncio. Perdemos oportunidades por causa de vieses inconscientes. Tomamos decisões erradas por confiar demais na primeira impressão. E insistimos em erros só porque já investimos tempo neles — um fenômeno que Kahneman chama de “falácia do custo afundado”.
A política, os negócios e até as relações pessoais estão sendo conduzidas, muitas vezes, por mentes operando no piloto automático. Uma manchete viral determina o voto. Um post bonito vende uma ilusão. Um julgamento apressado destrói uma reputação. Tudo rápido. Tudo raso.
O livro de Kahneman não é uma leitura leve. Mas deveria ser leitura obrigatória. Especialmente para líderes, empreendedores, professores, jornalistas — e todos que tomam decisões que afetam outras pessoas.
Saber que somos irracionais é o primeiro passo para melhorar nossas escolhas. E admitir que o “instinto” pode falhar é sinal de inteligência. A grande lição é: desacelerar não é perder tempo — é ganhar clareza.
Talvez o maior risco da nossa geração não seja a inteligência artificial. Seja a estupidez automática.