
Quando Donald Trump assinou o decreto que impõe tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, o impacto foi imediato no mercado. Mas, para Santa Catarina, o golpe tem endereço certo: frango, suínos e soja — três pilares do nosso agronegócio — estão fora da lista de isentos. Em outras palavras, o estado que lidera as exportações de proteína animal do Brasil verá seu principal cliente erguer um muro tarifário quase intransponível.
Enquanto isso, setores como madeira e móveis respiram aliviados. A lista de isenção abrange esses produtos, o que, paradoxalmente, cria um cenário desigual dentro do próprio estado: enquanto o Oeste catarinense vê riscos de cortes de produção e desemprego, o Norte e o Vale do Itajaí podem manter seu ritmo de exportação para os EUA.
O argumento do governo norte-americano, de “proteger a segurança nacional”, soa mais como pretexto político do que como medida econômica racional. A retórica de Trump aponta para um embate ideológico com o governo brasileiro, não para uma disputa justa no comércio internacional. E o preço dessa briga quem paga são as empresas e trabalhadores catarinenses.
É preciso perguntar: onde está a reação estratégica do Brasil? Uma resposta morna, limitada a notas diplomáticas, pode custar caro. Santa Catarina movimenta quase US$ 10 bilhões em exportações anuais — e um terço desse valor está em risco com a tarifa. Sem ação firme, veremos frigoríficos cortarem turnos, produtores reduzirem abates e cidades inteiras perderem receita.
Ao mesmo tempo, há lições a tirar. A dependência de um único mercado, por mais lucrativo que pareça, é um risco que agora se materializa. Diversificação de destinos e valor agregado nas exportações não são apenas discursos bonitos em seminários de comércio exterior — são medidas urgentes para a sobrevivência do setor produtivo.
No fim, o tarifaço não é só sobre economia. É sobre soberania, sobre como o Brasil se posiciona no cenário internacional e sobre a coragem de defender seu produtor. Santa Catarina precisa de mais do que discursos: precisa de estratégia, voz ativa e uma política comercial à altura do desafio que está posto.