
O anúncio do presidente Lula, nesta quarta-feira (13), de um plano de contingência com R$ 30 bilhões em crédito extraordinário para conter os efeitos do tarifaço imposto pelos Estados Unidos chega como um alívio para muitos setores exportadores. Mas também levanta perguntas incômodas: estamos reagindo rápido o bastante? E mais — essa resposta é estrutural ou apenas um curativo temporário?
O “tarifaço” — sobretaxa de 50% aplicada sobre produtos brasileiros — não é apenas uma questão de comércio exterior. É um choque direto sobre a competitividade, especialmente para pequenas e médias empresas que já operam no limite da margem. O governo acerta ao focar nelas, oferecendo crédito, adiamento de impostos e compras públicas para absorver estoques que perderam mercado externo. É a lógica do “não deixar o paciente morrer antes de aplicar o tratamento”.
Mas, ao mesmo tempo, é inevitável perceber que a medida é emergencial, não preventiva. A linha de crédito extraordinário, fora do teto de gastos e dentro da meta fiscal, é um instrumento legítimo em tempos de crise. Porém, se não vier acompanhada de ações permanentes de diversificação de mercados e de fortalecimento da indústria nacional, servirá apenas para empurrar o problema para frente. É como dar oxigênio sem tratar a doença.
O pacote também inclui conteúdo nacional obrigatório nas compras governamentais e estímulo à abertura de novos mercados. É um movimento inteligente — e necessário. Porém, abrir mercados leva tempo, e o tarifaço já está em vigor. No curto prazo, o desafio será impedir que empresas quebrem antes que essas novas rotas comerciais se consolidem.
O impacto fiscal, embora controlado dentro da meta, não pode ser ignorado. R$ 30 bilhões iniciais, com possibilidade de ampliação, são cifras expressivas. Em ano de cobrança crescente sobre o equilíbrio das contas públicas, o governo terá que justificar não apenas a urgência, mas a efetividade do gasto.
No fim, o Brasil precisava reagir — e reagiu. O problema é que reagir não é o mesmo que se antecipar. Hoje, salvamos setores em risco. Amanhã, se não houver política industrial consistente e diplomacia comercial estratégica, poderemos estar de volta à prancheta, desenhando outro plano emergencial.
A lição que fica é simples: um país competitivo não vive de respostas improvisadas, mas de estratégias duradouras. O tarifaço é um golpe, mas também um alerta. E talvez o maior erro seria não ouvi-lo.