
O governo federal lançou com grande aparato o Plano Safra 2025/2026, anunciando a cifra impressionante de R$ 594,4 bilhões em crédito rural — valor recorde, segundo as autoridades. Mas, como diz o produtor mais experiente: “não é o número que planta, é o solo”. E o solo, neste caso, está seco — de subsídios, de previsibilidade e de sensibilidade com a realidade do campo.
Na prática, o aumento de apenas 1,5% em relação ao plano anterior nem arranha a inflação acumulada no setor agrícola. O custo dos fertilizantes, da logística, da mão de obra e da tecnologia subiu bem mais. E mesmo com um discurso verde e sustentável, o governo reduziu o valor da subvenção para equalização de juros, prejudicando justamente os pequenos e médios produtores que mais precisam de fôlego financeiro para seguir inovando.
Pior: os juros variam de 10% a 14% ao ano para o agronegócio empresarial. Se antes já estava difícil investir com taxas próximas de dois dígitos, imagine agora com a Selic nas alturas e o crédito bancário mais restrito. Fala-se em “produzir mais com menos”, mas a matemática não fecha quando o custeio se torna impagável antes mesmo do plantio começar.
Outro ponto que salta aos olhos é a dependência de recursos livres do sistema financeiro, que representam mais de 70% do total anunciado. O que o governo promete, na verdade, é uma vitrine: quem tiver acesso à prateleira dos bancos poderá comprar o crédito. Quem não tiver, segue no limbo do financiamento rural, muitas vezes refém de agiotas modernos — com contrato, mas sem alma.
E onde está o seguro rural? Com eventos climáticos extremos se tornando rotina, seria natural esperar maior proteção ao produtor. Mas o seguro continua um apêndice mal resolvido da política agrícola. Fica a impressão de que se investe no risco, mas não na prevenção.
Enquanto isso, nas propagandas, o agro segue sendo chamado de motor da economia. Mas esse motor está sobrecarregado. Em vez de lubrificante, recebeu mais atrito. O risco, com juros altos e acesso restrito, é ver uma desidratação tecnológica no campo: menos máquinas, menos insumos, menos produtividade. E, com isso, mais desigualdade entre os grandes exportadores e os pequenos agricultores que sustentam o abastecimento interno.
O Plano Safra deveria ser um pacto nacional pelo futuro do Brasil rural. Virou, infelizmente, um plano contábil para cumprir tabela. A conta, como sempre, será paga por quem planta, colhe e carrega o agro nas costas.