terça-feira, dezembro 30, 2025
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Lula, Dilma e a conta de R$ 16 bilhões das anistias políticas

Confira a coluna do professor Dr. Givanildo Silva

Prof. Givanildo Silva – Doutor em Ciências Contábeis e Administração.

Existe um número que deveria estar estampado em qualquer debate sério sobre anistia política no Brasil: aproximadamente R$ 16 bilhões. É esse o montante estimado que já saiu dos cofres públicos desde o início dos anos 2000 com indenizações, pensões especiais mensais, retroativos e reparações econômicas ligadas ao período da ditadura militar. Não se trata de uma despesa simbólica, eventual ou residual. Trata-se de uma estrutura permanente de pagamentos que consome, ano após ano, recursos que poderiam estar em saúde, educação e segurança pública.

Para entender o tamanho do problema, é preciso abrir esse número. Desde a regulamentação da reparação em 2002, foram aprovadas milhares de anistias com direito a pagamento. Só entre civis, mais de 10 mil pessoas já foram indenizadas ao longo desse período. A partir daí, formou-se um contingente estável de beneficiários contínuos: em 2023, por exemplo, havia mais de 6 mil pessoas recebendo mensalmente valores ligados à anistia. Esse fluxo não é pequeno: apenas em 2023, o gasto anual com essas reparações ficou em torno de R$ 1 bilhão, considerando civis e militares. Em outras palavras, a cada quatro anos de governo, essa política custa algo equivalente à construção de diversos hospitais de grande porte ou centenas de escolas bem estruturadas.

Dentro desse cenário, os nomes de Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva assumem um papel emblemático. Dilma, reconhecida oficialmente como anistiada, recebeu R$ 100 mil em parcela única, além de decisões judiciais que ampliaram sua reparação por danos morais. Não se discute a violência sofrida — prisão e tortura são vergonhas históricas do Estado brasileiro. Mas a questão é objetiva: Dilma chegou à Presidência da República, comandou o Estado brasileiro e ainda assim recebeu indenização financeira desse mesmo Estado décadas depois. É legítimo perguntar se isso ainda é reparação histórica ou se já se transformou em privilégio institucionalizado.

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Lula aparece nesse debate de outra forma. Ele foi beneficiado politicamente pela Lei de Anistia de 1979, que lhe permitiu retomar sua trajetória pública e chegar ao poder. Mesmo sem evidência de pensão mensal como anistiado político atualmente, o fato é que sob sua influência política — seja como líder, seja como presidente — a engrenagem de reparações foi mantida, ampliada e blindada moralmente. Enquanto isso, Lula acumula benefícios como ex-presidente, em um país onde a maioria dos trabalhadores sobrevive com renda muito inferior à do funcionalismo e dos beneficiários desse sistema.

Quando se coloca Lula e Dilma no centro dessa discussão, o debate deixa de ser abstrato. Falamos de pessoas que chegaram ao topo do poder e fazem parte de um sistema que, somado, já consumiu algo perto de R$ 16 bilhões. Falamos de uma estrutura que paga pensões mensais, muitas vezes vitalícias, concede retroativos altos, mantém milhares de beneficiários fixos e renova decisões de pagamento ano após ano. Não é apenas memória histórica; é uma despesa estruturada do orçamento público.

Os defensores das indenizações costumam bloquear a discussão com frases morais: “quem critica quer apagar a ditadura” ou “está relativizando a tortura”. É um atalho conveniente para evitar o debate central: qual é o limite financeiro, temporal e ético dessas indenizações? Porque, se por um lado é dever do Estado pedir desculpas e reconhecer crimes históricos, por outro é irresponsável transformar dor histórica em um fluxo perpétuo de dinheiro público — especialmente em um país que ainda falha em garantir cuidados básicos aos vivos do presente.

Há ainda um efeito colateral pouco discutido: criou-se desigualdade até dentro da reparação. Há indenizações modestas e há reparações milionárias. Há cidadãos comuns que receberam pouco e há figuras públicas — com poder político, influência e carreira de alto nível — que também se beneficiaram. Em muitos casos, a discussão deixou de ser “reconhecimento moral” e virou “quanto cada um conseguirá receber do Estado”.

Uma democracia adulta pode — e deve — reconhecer formalmente que o Estado errou. Pode — e deve — pedir desculpas públicas permanentes, ensinar nas escolas, preservar a memória e punir o autoritarismo no plano simbólico e institucional. Mas transformar isso em uma conta financeira de R$ 16 bilhões, que continua crescendo, que gera um gasto anual na casa de R$ 1 bilhão, e que mantém milhares de pensões ativas décadas após os fatos, é algo que precisa ser questionado com seriedade.

Lula e Dilma são os rostos políticos mais visíveis dessa engrenagem. E o contribuinte tem o direito — e talvez o dever — de perguntar: a reparação histórica já cumpriu seu papel ou o Brasil decidiu, simplesmente, pagar essa conta para sempre?

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