
Vivemos obcecados pelo tempo. Ele nos guia, nos apressa, nos cobra. Olhamos para o relógio dezenas de vezes por dia, contamos dias para o fim de semana, fazemos planos para um futuro que nunca chega e carregamos arrependimentos de um passado que não volta. Mas e se, no fundo, estivermos vivendo a ilusão do tempo errado?
Na mitologia grega, dois deuses personificam o tempo: Kronos e Kairós. Kronos é o tempo cronológico, linear, aquele que os relógios marcam e que a vida insiste em nos cobrar. É o tempo do calendário, das metas, dos prazos e da sensação de que o dia tem menos horas do que precisamos. Já Kairós é o tempo da oportunidade, do momento certo. Não é medido por segundos, mas pela intensidade e significado do instante vivido.
Essa distinção revela algo profundo: o passado e o futuro não existem de fato. O passado é memória; o futuro é projeção. O único tempo real é o agora — e, ainda assim, o desperdiçamos como se fosse infinito. Corremos de reunião em reunião, acumulamos compromissos, reclamamos da falta de tempo… mas quantas vezes paramos para viver, de fato, o presente?
É aqui que Kairós desafia Kronos. Não se trata de abandonar os planos ou ignorar o que passou, mas de perceber que a vida acontece nos intervalos entre um compromisso e outro. No abraço que damos sem olhar o celular. No silêncio que escolhemos antes de reagir a uma provocação. Na coragem de dizer “eu te amo” antes que seja tarde.
A pergunta que fica é: como você tem medido sua vida? Em anos que passam… ou em momentos que marcam? A intensidade — não a duração — é o que transforma segundos em eternidade.
Talvez seja hora de parar de esperar o “momento certo” e começar a criá-lo. Porque o tempo não para. E o que você faz com o agora é o que, no fim, define quem você é.