
A escalada entre Israel e Irã não é apenas um confronto entre dois inimigos históricos — é um sinal claro de que o mundo vive uma era de alta combustão geopolítica, e quem pensa que isso não respinga por aqui, no Brasil, está enganado. Cada bomba que cai em Teerã ou Tel Aviv levanta também a inflação nos postos de gasolina de Chapecó, São Paulo ou Recife.
Na última semana, Israel lançou uma das operações mais ousadas desde os tempos de Mossad contra o Irã: uma série de ataques coordenados em território iraniano, mirando instalações nucleares e lideranças estratégicas. O Irã respondeu com fúria, disparando mais de 150 mísseis e drones contra o território israelense. A guerra, que era fria e indireta, se aqueceu de vez — e o mercado global tremeu.
Enquanto isso, o cidadão brasileiro liga a TV e vê imagens distantes. Mas bastará encher o tanque na semana que vem para perceber: o conflito é nosso também.
O efeito dominó do petróleo
O primeiro impacto é direto: o barril do petróleo já ameaça romper a barreira dos 100 dólares, puxado pela incerteza no Estreito de Ormuz — por onde passa cerca de 20% do petróleo do mundo. A simples possibilidade de bloqueio eleva o risco para seguradoras, armadores e exportadores. Isso se traduz em aumento de custo logístico, combustível mais caro, inflação pressionada. E como sempre, o povo paga a conta.
O agronegócio, orgulho nacional e motor das exportações, também sente. Fretes mais caros, rotas mais longas, aumento no custo dos insumos — e tudo isso pode virar alta nos alimentos. Um míssil que cai em Jerusalém pode subir o preço do arroz em Santa Catarina.
O Brasil e sua posição ambígua
O governo brasileiro, historicamente defensor do multilateralismo, adotou postura crítica a Israel. A retórica se alinha ao discurso progressista de defesa dos direitos civis, mas traz dilemas diplomáticos. Israel é parceiro relevante em tecnologia, segurança e agricultura. Romper ou esfriar essa relação pode significar perder acesso a inovações estratégicas.
Ao mesmo tempo, o Itamaraty tenta equilibrar a balança, condenando a violência de ambos os lados, mas mantendo diálogo com países árabes. O risco é claro: transformar princípios em pragmatismo nem sempre é bem compreendido nem aqui dentro, nem lá fora.
A lição ignorada
Talvez o mais preocupante de tudo seja a facilidade com que o mundo parece caminhar para a normalização do conflito. A guerra deixa de ser manchete para virar rotina. Mas essa banalização é perigosa. Cada escalada entre potências regionais com armamento avançado — e, no caso do Irã, potencial nuclear — deve acender o sinal vermelho.
Se Israel e Irã entrarem em uma guerra aberta, o mundo enfrentará não apenas um conflito militar, mas uma convulsão econômica. E o Brasil, mesmo longe das bombas, estará no centro da turbulência.
Frentes de guerra
Estamos em 2025, mas voltamos a um cenário que lembra a Guerra do Golfo ou os anos mais tensos da Guerra Fria. Só que agora, com redes sociais, inteligência artificial e mercados em tempo real. O mundo está menor, mais conectado e, por isso, mais vulnerável.
É hora de o Brasil se posicionar com maturidade, preservar seus interesses e preparar-se. Porque, em tempos de guerra, a neutralidade pode ser estratégica — mas a passividade, nunca.