
Na sexta-feira, 5 de setembro de 2025, o Tribunal do Cade aprovou — por unanimidade e sem restrições — a incorporação da BRF pela Marfrig, consolidando a criação da MBRF Global Foods Company. A decisão ratificou o parecer da Superintendência-Geral e foi o último marco regulatório necessário antes da conclusão formal da fusão.
Porque o Cade deu sinal verde
A razão técnica é clara: a participação de mercado combinada nas áreas de sobreposição horizontal permanece abaixo de 20%, enquanto a atuação em cadeias verticais integradas não ultrapassa 30% — patamares considerados seguros pela legislação concorrencial. O Tribunal também avaliou as preocupações ligadas a investidores estrangeiros, mas entendeu que não havia risco de coordenação anticompetitiva suficiente para barrar a operação.
O que a nova gigante representa
A MBRF nasce como uma das maiores companhias do mundo no setor de alimentos, com receita anual estimada em R$ 152 bilhões, atuação em mais de 100 países, um vasto portfólio de marcas como Sadia, Perdigão, Qualy e Bassi, mais de 130 mil colaboradores e produção de cerca de 8 milhões de toneladas por ano.
Aval unânime da sinergia
É inegável que a fusão representa uma oportunidade de sinergias expressivas — redução de custos logísticos, otimização de estruturas corporativas, centralização de distribuição e ganhos tributários bilionários. Contudo, a dimensão do ente resultante não pode ser ignorada: estamos falando de uma megacorporação cuja atuação se aproxima da da JBS no Brasil, em um setor estratégico para a economia nacional.
Minerva e o papel dos “terceiros interessados”
A Minerva Foods participou ativamente do debate, levantando preocupações quanto à governança compartilhada de investidores e possíveis impactos no mercado. O Tribunal, entretanto, manteve o entendimento técnico de que não há sobreposição preocupante. Assim, a fusão seguiu sem condicionantes.
Implicações para o mercado e além
A nova configuração traz uma série de efeitos adversos e benéficos:
- Para os consumidores: maior eficiência operacional pode trazer ganhos, mas também há o risco de redução de diversidade de oferta ou aumento de poder de barganha contra varejistas.
- Para os concorrentes: empresas como JBS e Minerva terão desafios redobrados para manter competitividade diante de um portfólio mais integrado e globalizado.
- Para o agronegócio nacional: o setor ganha um campeão global com marca brasileira — traz visibilidade, mas também concentração de poder estratégico.
Governança, direitos e pressões políticas
O rito se encerrou em assembleias realizadas em agosto, quando os acionistas aprovaram a fusão. Houve inclusive a possibilidade de direito de retirada para quem não concordasse. Resta acompanhar como será a governança da MBRF, especialmente considerando a influência de grandes investidores internacionais e os impactos de longo prazo no setor.
A criação da MBRF marca um momento de viragem no agronegócio brasileiro: é a materialização de décadas de expansão global e consolidação no setor de proteína animal. A avaliação do Cade descarta ameaças imediatas à concorrência, mas abre um amplo leque de discussões futuras:
- Qual será o impacto competitivo frente à JBS e ao mercado varejista?
- Como essa concentração mudará a dinâmica de fornecedores e distribuidores regionais?
- Haverá supervisão contínua para evitar abusos de poder e preservar a diversidade de oferta?
A fusão é aprovada — e é inevitável. O que o setor, o mercado e os consumidores esperam agora é que essa nova gigante jogue com transparência, responsabilidade e respeito à concorrência — e não apenas com sua escala.