
No xadrez da política internacional, há momentos em que a diplomacia exige paciência — e outros em que ela cobra ação imediata. O Brasil, no caso das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre produtos nacionais, parece ter cruzado a fronteira entre a espera estratégica e a paralisia.
As negociações técnicas, que vinham sendo conduzidas pelo governo brasileiro, simplesmente desmoronaram. A reunião-chave em Washington foi cancelada. O canal de diálogo com o governo Trump, ao menos no que diz respeito ao comércio, secou. Resultado: estamos de volta à estaca zero, sem um cronograma, sem um plano claro e sem sequer um gesto concreto de aproximação.
Nesse vácuo diplomático, empresários pressionam. Não apenas pelo temor de prejuízos imediatos em exportações de aço, alumínio e produtos do agronegócio, mas pelo efeito cascata que tarifas desse porte podem gerar: perda de competitividade, queda nas encomendas, cortes de empregos. Eles sabem que, na arena global, o tempo é um ativo tão valioso quanto qualquer commodity.
E é aqui que surge a pergunta incômoda: quando Lula vai ligar para Trump? Não se trata de subserviência nem de abdicar de princípios políticos. Trata-se de compreender que, no jogo de poder, líderes muitas vezes resolvem impasses no contato direto, olho no olho — ou, no caso, voz na voz. A história recente mostra que uma ligação presidencial pode destravar barreiras que meses de diplomacia burocrática não conseguem romper.
Claro, há quem defenda que o momento não é adequado, que seria melhor esperar sinais de abertura da Casa Branca. Mas esperar até quando? Enquanto isso, o tarifaço continua valendo, as exportações seguem sufocadas e a indústria nacional vê seus custos aumentarem.
Se a política externa é a arte de equilibrar orgulho e pragmatismo, talvez seja hora de pesar o que custa mais: uma ligação feita no momento certo — ou o silêncio que pode sair caro para o país inteiro.