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Um panorama da crise
Os Correios registraram um prejuízo histórico de R$ 2 bilhões entre janeiro e setembro de 2024, o maior já registrado pela estatal para esse período. A projeção indica que, se a situação persistir, o déficit anual poderá ultrapassar os R$ 2,1 bilhões registrados em 2015, agravando ainda mais a crise financeira.
Para conter o rombo, medidas emergenciais foram anunciadas, como a suspensão de novas contratações por 120 dias, renegociação de contratos com uma meta de redução de 10% nos valores e a implementação de um teto de gastos de R$ 21,9 bilhões para 2024.
O impacto das mudanças no comércio internacional
Um dos principais fatores para o prejuízo é a redução de 40% nas importações internacionais, provocada pela aplicação da nova tributação para compras de até US$ 50. A medida, apelidada de “taxa das blusinhas”, desestimulou compras em plataformas como Shein, Shopee e AliExpress. A receita internacional caiu de R$ 1,3 bilhão entre julho e setembro de 2023 para R$ 1 bilhão no mesmo período deste ano.
Desafios estruturais e passivos herdados
Os problemas financeiros dos Correios não são novos. A estatal lida com um passivo de R$ 1 bilhão herdado de gestões anteriores, que inclui sucateamento de agências, cortes de investimentos e redução de direitos trabalhistas. Além disso, a defasagem tarifária de cinco anos e a migração para o digital reduziram ainda mais a capacidade da empresa de gerar receita.
Outro desafio é o alto custo da universalização dos serviços postais, que exige operações em regiões remotas sem retorno financeiro adequado, aprofundando o déficit.
Esperança ou declínio?
Mesmo com o cenário adverso, os Correios asseguram que não haverá demissões além das previstas no Programa de Desligamento Voluntário (PDV) e que as contratações por concurso público serão mantidas. Há expectativas de que as medidas emergenciais estabilizem as finanças, mas o futuro da estatal permanece incerto.
A crise dos Correios é um reflexo de decisões políticas, mudanças econômicas e transformação digital, colocando em xeque a sustentabilidade de um dos serviços mais tradicionais do Brasil.