quinta-feira, dezembro 11, 2025
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Cinco movimentos que mostram para onde o Brasil está indo: segurança, trabalho e justiça sob tensão

Confira a coluna do professor Dr. Givanildo Silva

Prof. Givanildo Silva – Doutor em Ciências Contábeis e Administração.

O Congresso Nacional encerra o ano com uma enxurrada de propostas que mexem simultaneamente com segurança pública, leis penais, organização do trabalho e combate à inadimplência estruturada. Cada uma dessas pautas impacta profundamente a vida do cidadão comum — mas, acima de tudo, revelam um Brasil inquieto, polarizado e tentando encontrar algum eixo entre punição, direitos e eficiência.

O problema é que, quando tudo avança ao mesmo tempo, o risco é enorme: atropelar debates essenciais, aprovar remendos apressados ou produzir soluções que resolvem um lado e criam novos problemas no outro.

A seguir, o que cada movimento revela sobre o momento político do país — e por que eles deveriam preocupar (ou animar) qualquer brasileiro atento.

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  1. O PL da Dosimetria: o debate que virou atalho jurídico

A aprovação, pela Câmara, do projeto que altera o cálculo de penas para crimes contra o Estado Democrático de Direito virou símbolo de como a política interfere explicitamente na área penal.

A simplificação da pena para delitos como “golpe de Estado” e “abolição violenta do Estado Democrático” — que deixam de ser cumulativos — pode reduzir drasticamente condenações já aplicadas. Isso, por si só, já alimenta suspeitas de casuísmo.

O que deveria ser uma discussão técnica sobre proporcionalidade de penas virou uma queda de braço político, onde cada lado tenta puxar a balança para si. O resultado? Um país que troca segurança jurídica por conveniência momentânea.

  1. Fim da jornada 6×1: avanço trabalhista ou risco às empresas?

A aprovação na Comissão de Constituição e Justiça do Senado de uma proposta que extingue a jornada 6×1 e institui carga máxima de 36 horas semanais tem impacto direto no setor de serviços, comércio e indústria.

Para os defensores, trata-se de uma atualização necessária: o modelo 6×1 é considerado desgastante, antiquado e desalinha o Brasil das boas práticas atuais de organização do trabalho.

Para os críticos, a proposta ignora a realidade operacional de setores que funcionam todos os dias da semana. O custo de reorganização pode ser pesado para empresas que já enfrentam margens apertadas.

O ponto central é outro: o Congresso ainda não apresentou estudos amplos que mostrem os impactos econômicos. E legislar no escuro quase sempre cobra um preço no futuro.

  1. O PL Antifacção: entre a firmeza necessária e o risco do exagero

O projeto que endurece o combate às facções criminosas sofreu modificações importantes no Senado após críticas contundentes de especialistas em política criminal.

O substitutivo tenta corrigir erros graves da versão original:

  • falta de critérios para diferenciar líderes de integrantes periféricos;
  • penas desproporcionais;
  • risco de criminalização de cidadãos sem envolvimento real com organizações criminosas.

O país clama por firmeza contra o crime organizado — e ela é urgente. Mas firmeza sem precisão vira apenas excesso punitivo, alimentando superlotação carcerária e ampliando injustiças. A pergunta é simples: o Senado conseguirá entregar um texto forte sem ser irresponsável?

  1. PEC da Segurança: mais poderes e menos freios

A PEC da Segurança Pública reúne uma coleção de medidas que ampliam o poder de estados e municípios na execução de políticas penais, endurecem regras para presos e, de quebra, absorvem trechos do PL Antifacção.

O relator incluiu pontos sensíveis, como:

  • vedação à progressão de regime para presos ligados a facções;
  • restrições a presos provisórios;
  • financiamento constitucional ampliado;
  • autonomia legislativa reforçada aos estados.

O risco é transformar uma emenda constitucional em um pacote de emergência sem reflexão maior. Segurança pública merece prioridade — mas Constituição não é muro de contenção improvisado.

  1. Devedor contumaz: finalmente o país enfrenta a sonegação estruturada

O projeto que pune quem mantém dívidas tributárias elevadas e recorrentes é, talvez, a pauta mais madura deste conjunto. Ele separa o sonegador profissional — que usa empresas laranja, manobras societárias e litígios infinitos — do empresário que enfrenta dificuldades reais.

As medidas incluem perda de benefícios, impedimento de participar em compras públicas e até barreiras para recuperação judicial.

Trata-se de um avanço importante: o Brasil sempre foi duro com o pequeno inadimplente e suave com grandes sonegadores estruturados. A mudança é bem-vinda — desde que não vire instrumento de perseguição política ou fiscal.

O que tudo isso significa para o país

O conjunto dessas cinco pautas mostra um Brasil mais preocupado com segurança, mais intervencionista nas relações de trabalho, mais disposto a endurecer leis penais e mais agressivo no combate à inadimplência grave.

Mas também mostra um país legislando sob pressão, com pouco tempo para estudos técnicos e muita influência das disputas políticas.

O desafio é equilibrar:

  • firmeza com proporcionalidade,
  • modernização com viabilidade econômica,
  • segurança com garantias individuais,
  • arrecadação com justiça fiscal.

Se o Congresso conseguir isso, teremos avanço.
Se não conseguir, teremos apenas mais um ciclo de leis apressadas criadas para resolver emergências — e que acabam gerando novas emergências no caminho..

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