
Enquanto boa parte do mercado engatinha em meio a incertezas econômicas e climáticas, uma gigante da proteína animal deu um salto: a BRF (BRFS3) registrou alta de 9,37% nesta segunda-feira (7), liderando com folga as valorizações do Ibovespa. Mais do que um movimento técnico, essa disparada sinaliza o retorno de um tema estratégico que o mercado não consegue ignorar: a fusão entre BRF e Marfrig.
Sim, o casamento está novamente no radar. A assembleia que pode selar a união entre as duas empresas está marcada para o próximo dia 14 de julho. E o investidor, como um apostador confiante, já começa a antecipar os votos. A alta da ação reflete isso: um mix de expectativa positiva, alívio cambial e, por que não, esperança no futuro da companhia — que já viveu seus dias de glória e amargura no mesmo pacote.
É preciso lembrar que a BRF já foi uma das maiores potências do agro brasileiro, com operações globais e presença de marca incontestável no varejo. No entanto, nos últimos anos, enfrentou um verdadeiro ciclo de penitência: prejuízos sucessivos, ingerência política e alto custo de insumos. O investidor que segurou as ações por uma década viu mais de 80% de seu valor evaporar.
Agora, com a Marfrig assumindo as rédeas, a tese de reestruturação ganha força. Afinal, a lógica faz sentido: a Marfrig traz gestão disciplinada, foco em margem e experiência internacional, enquanto a BRF ainda detém marcas valiosas como Sadia e Perdigão, além de capilaridade logística invejável. Uma combinação de força bruta com inteligência de mercado.
Mas será que o mercado está eufórico demais?
Há riscos relevantes que não podem ser ignorados. A fusão ainda precisa ser aprovada, e há dúvidas sobre sinergias reais, sobreposição de ativos e potenciais passivos ocultos — sem falar na sempre presente interferência política. Além disso, o setor vive um momento de pressão: custos de produção elevados, volatilidade cambial e aumento das exigências internacionais em sanidade e ESG.
Ainda assim, o investidor é, antes de tudo, um animal que fareja futuro. E o futuro, neste momento, parece um pouco mais palatável para a BRF. Não se trata de dizer que a empresa virou a queridinha da bolsa, mas sim que voltou a ser levada a sério.
Se a fusão se concretizar, estaremos diante de uma nova gigante global da proteína — mais enxuta, mais agressiva e, quem sabe, mais rentável. Se der errado, voltaremos ao jogo conhecido: promessas não cumpridas, lucros tímidos e um histórico que teima em não cicatrizar.
Por ora, o mercado preferiu acreditar. E o investidor, pelo menos por um dia, voltou a sorrir diante do ticker BRFS3.