
A notícia ecoou como um trovão na tarde de Chapecó. Não, não foi a previsão de mais chuva, mas sim a bomba anunciada por Donald Trump: uma tarifa de 50% sobre TODAS as importações brasileiras pelos Estados Unidos. A partir de 1º de agosto de 2025, o que era caro ficará impraticável, e o que era competitivo, simplesmente sumirá do mapa. E no Oeste de Santa Catarina, a terra da agroindústria pujante, essa medida não é apenas uma ameaça econômica; é um golpe direto no coração de nossa identidade e prosperidade.
O gigante abalado: A realidade do Oeste catarinense
Não é exagero dizer que o Oeste de SC vive e respira agronegócio. Somos o berço de gigantes como BRF, e nossos frigoríficos são pilares que sustentam milhares de famílias. Aves e suínos de alta qualidade, produzidos com tecnologia de ponta e cuidado sanitário rigoroso, chegam aos quatro cantos do mundo. Além da carne, nossa pauta exportadora para os EUA inclui madeira, geradores, motores e móveis – setores que, embora menos badalados que a agroindústria, empregam e geram riqueza para a região.
Os Estados Unidos são, sem dúvida, um parceiro comercial vital para Santa Catarina. Se olharmos os números do primeiro semestre de 2025, o mercado americano foi o principal destino das exportações catarinenses, absorvendo US$ 847 milhões em produtos. Agora, imagine que, da noite para o dia, esses mesmos produtos cheguem ao consumidor americano custando a metade a mais. É uma conta que não fecha, e é exatamente isso que a tarifa de 50% representa: uma barreira intransponível.
O efeito evastador: Empregos, renda e o futuro
O impacto dessa medida em nossa economia local será avassalador. Não se trata apenas de grandes empresas sofrendo prejuízos; trata-se do impacto direto na vida de cada trabalhador, cada produtor rural, cada família que depende dessa engrenagem.
Na agroindústria, embora a China seja nosso maior comprador de carnes, os EUA ainda são um mercado importante e, acima de tudo, um termômetro de competitividade. Com 50% de tarifa, vender carne para os americanos se torna uma quimera. A consequência? Excesso de oferta no mercado interno, preços em queda para o produtor e, inevitavelmente, a necessidade de cortar custos nas grandes indústrias – o que se traduz em demissões. Milhares de postos de trabalho, desde os campos até as linhas de produção, estão em risco.
Nos setores de madeira, geradores e móveis, o cenário não é menos sombrio. Nossas exportações para os EUA, que representam parte considerável do faturamento de muitas empresas locais, simplesmente murcharão. Fábricas terão que diminuir o ritmo, ou pior, fechar as portas. A renda das famílias despencará, o comércio local sentirá o baque e a arrecadação de impostos pelos municípios da região sofrerá um forte golpe.
O efeito cascata é inevitável. Menos dinheiro circulando significa menos consumo, menos investimentos e uma economia em recessão. É um ciclo vicioso que ameaça desestabilizar uma região que, até então, era sinônimo de resiliência e progresso.
A geopolítica na mesa e o desafio da diversificação
A justificativa de Trump para essa medida – que mistura críticas ao julgamento de Jair Bolsonaro, acusações de censura e o velho argumento de “falta de reciprocidade” – torna tudo ainda mais complexo. Não é apenas uma questão econômica, é uma manobra política que usa o comércio como arma, ignorando as consequências para milhões de pessoas.
Diante desse cenário, o Brasil precisa de uma resposta firme, mas inteligente. A Lei de Reciprocidade Comercial é uma ferramenta, mas uma escalada na guerra comercial pode custar ainda mais caro. O verdadeiro desafio, e a única saída sustentável a longo prazo, é a diversificação de mercados. Precisamos intensificar nossos laços comerciais com a China, a União Europeia, o Oriente Médio e outros blocos econômicos. É preciso abrir novas portas, mesmo que a passos lentos, para não ficarmos reféns de um único mercado ou das idiossincrasias de um líder estrangeiro.
A proposta de Trump de que empresas brasileiras montem fábricas nos EUA para evitar as tarifas é, para a maioria das nossas indústrias, uma miragem. Não é uma solução para a economia regional, mas um convite a descapitalizar o Brasil em favor dos Estados Unidos.
O Oeste Catarinense está acostumado a desafios. Nossa história é de superação e trabalho duro. Mas o golpe da tarifa de 50% é um dos mais duros que já recebemos. Agora, mais do que nunca, é preciso união entre setor produtivo, governos (municipal, estadual e federal) e a sociedade para traçar um caminho que minimize os danos e construa um futuro mais seguro e diversificado para nossa gente. O Brasil não pode ceder à chantagem, mas precisa ser estratégico para proteger seus interesses e, principalmente, o pão na mesa de milhões de brasileiros.