
A eleição de Carlos Viana (Podemos-MG) para a presidência e de Alfredo Gaspar (União Brasil-AL) para a relatoria da CPMI do INSS representa muito mais do que uma simples vitória regimental da oposição no Congresso. É, antes de tudo, um sinal claro de que o Parlamento não está disposto a ser apenas uma correia de transmissão do Executivo. Num momento em que a confiança da população nas instituições anda abalada, essa virada política traz novo equilíbrio de forças e impõe freios a um governo que tenta controlar narrativas e blindar aliados.
O escopo da CPMI é sério: investigar denúncias de fraudes e descontos indevidos em benefícios do INSS, um sistema que envolve milhões de aposentados e pensionistas e que representa a base da seguridade social brasileira. Se há suspeitas de irregularidades, nada mais justo do que uma investigação ampla, transparente e com comando independente. A vitória da oposição assegura que não haverá abafamento ou desvio de foco: o objetivo agora é trazer à luz o que realmente ocorreu, sem conveniências partidárias.
É simbólico que Viana tenha prometido isenção e firmeza. Não se trata de transformar a CPMI em palanque, mas de cumprir o papel constitucional de fiscalização. Já Gaspar, na relatoria, carrega o compromisso de entregar um relatório que aponte responsáveis, proponha soluções e recupere a confiança do povo no INSS. Diferente do que o governo esperava, a comissão não será uma vitrine para discursos evasivos, mas um espaço de cobrança real.
O que se viu foi um divisor de águas político. A base governista apostava numa condução confortável, capaz de empurrar os problemas para debaixo do tapete. Perdeu. E perdeu porque a oposição, unida e organizada, mostrou força e capacidade de articulação. Esse resultado também deixa claro que a hegemonia política no Congresso é frágil e que a sociedade quer equilíbrio, fiscalização e limites ao poder central.
A CPMI tem 180 dias de trabalho. Não é muito tempo, mas é suficiente para revelar ao país como funcionaram esquemas de descontos irregulares, quem se beneficiou deles e quais medidas precisam ser tomadas para que aposentados não continuem reféns de brechas e falhas de gestão. A oposição não apenas conquistou a presidência e a relatoria — conquistou também a expectativa popular de que, finalmente, alguém olhe para o problema sem medo de enfrentar interesses instalados.
No fim das contas, essa vitória é um recado: o governo não terá carta branca para conduzir as instituições ao seu bel-prazer. A oposição mostrou que pode ser maioria quando age com coesão e foco. E, se a comissão avançar com independência, prestará um serviço inestimável não apenas aos aposentados e pensionistas, mas à própria democracia brasileira.