Em setembro, a fábrica localizada em Lajinha, no leste de Minas Gerais, da subsidiária brasileira da NetZero, empresa com sede em Paris, iniciará a produção contínua de biocarvão utilizando palha de café proveniente de fazendas de 400 cafeicultores da região. Os fornecedores iniciais da matéria-prima serão os primeiros a utilizar o biocarvão como adubo em suas terras, esperando resultados semelhantes aos obtidos em experimentos de pequena escala conduzidos por centros de pesquisa no Brasil e em outros países.
O biocarvão, também conhecido como biochar, é produzido através do aquecimento sem oxigênio em fornos chamados pirolisadores de resíduos agrícolas, utilizando materiais como espiga de milho, casca de babaçu, arroz, algodão, serragem, restos de madeiras, açaizeiros e dendezeiros. Estudos controlados realizados nos últimos 10 anos demonstraram que essas formulações aumentaram a produtividade agrícola em até 50%, o crescimento das raízes em 30%, e dos brotos em 45%. Além disso, favoreceram a absorção de nutrientes, reduziram o uso de fertilizantes químicos em cerca de 20%, e auxiliaram na retenção de água e contaminantes no solo.
A fábrica em Lajinha, inaugurada em abril, é a primeira em escala comercial no Brasil. Construída com tecnologia própria em um terreno cedido pela Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Lajinha (Coocafé), tem capacidade de produção de 4,5 mil toneladas de biocarvão por ano. Embora essa quantidade seja modesta em comparação com os 42 milhões de toneladas de fertilizantes consumidos anualmente no Brasil, parte do biocarvão será disponibilizada gratuitamente aos fornecedores da matéria-prima, enquanto o restante estará disponível com desconto.
O empresário francês Olivier Reinaud, cofundador da NetZero, afirmou que a comercialização de créditos de carbono viabiliza o modelo de negócios da empresa, subsidiando o preço de venda do biocarvão. Segundo ele, o banco Rothschild e a consultoria Boston Consulting Group já adquirem créditos gerados pelo biocarvão produzido em uma fábrica em Camarões, na África. Esses créditos correspondem a cerca de metade da receita da empresa.
A Aperam BioEnergia, produtora de carvão vegetal em Minas Gerais, anunciou a venda de 921 contratos de remoção de carbono, cada um correspondendo à retirada de 1 tonelada de dióxido de carbono (CO2) da atmosfera. A meta é produzir 40 mil toneladas de biocarvão por ano, representando uma receita próxima a R$ 40 milhões.
Empresas europeias produziram cerca de 21 mil toneladas de biocarvão em 2020, enquanto os Estados Unidos atingiram 45 mil toneladas em 2017 e 2018, podendo chegar a 70 mil toneladas nos anos seguintes. Estima-se que o mercado global de biocarvão alcance US$ 205 milhões neste ano e US$ 587 milhões em 2030, com um crescimento anual de 13%, segundo a organização não governamental Earth.
O biocarvão, se utilizado em larga escala, poderia remover entre 1,3 bilhão e 3 bilhões de toneladas de CO2 até 2050, de acordo com o Projeto Drawdown. No entanto, o engenheiro químico Henrique Poltronieri Pacheco, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ), destaca a necessidade de análises completas da pegada de carbono para avaliar efetivamente o sequestro de carbono pelo biocarvão.
A Carbosolo, empresa apoiada pela FAPESP, desenvolveu uma forma granulada de biocarvão para facilitar a aplicação e evitar a dispersão das partículas. Outras pesquisas exploram a possibilidade de utilizar o biocarvão poroso para transportar microrganismos benéficos para o crescimento das plantas.
Embora as perspectivas sejam positivas, especialistas alertam para a variação de eficiência do biocarvão conforme diferentes variáveis, como solo, clima, planta cultivada e método de aplicação.
Cotações:
⦁ Dólar: R$ 4,94
⦁ Saca da soja 60kg: R$ 141,63
⦁ Saca de feijão carioca 60kg: R$ 289,54
⦁ Saca de feijão preto 60kg: R$ 338,77
⦁ Saca de milho 60kg: R$ 64,67
⦁ Arroba do boi: R$ 249,45
⦁ Litro do leite: R$ 1,88