A grande maioria dos casos de suicídio registrados no Brasil são preveníveis. Segundo o estudo apresentado na página 14 da cartilha “Suicídio: informando para prevenir”, publicada em 2014 pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), o motivo é a associação desses casos a transtornos mentais, como transtorno bipolar, depressão, ansiedade e esquizofrenia, que somam 96,8% dos diagnósticos psiquiátricos e suicídio. Isso significa uma grande chance de salvar vidas, já que o suicídio é a segunda maior causa de morte entre jovens de 15 a 25 anos, população com alta expectativa de vida e produtividade.

Desde 2015, amarelo é uma das cores mais simbólicas do mês de setembro. Movimento idealizado no final de 2014 pelo Centro de Valorização da Vida (CVV) e outras entidades, colorido mundialmente como referência direta ao Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, no início do mês, dia 10. O objetivo é tratar do tema, de forma ampla e consciente. Segundo a médica psiquiatra Rafaela Pavan, que usa durante todos os 30 dias do mês de setembro uma peça de roupa em amarelo, as pessoas acabam “amenizando” sofrimento das outras. São frases como “mas você tem tudo”, “há pessoas bem piores”, e pensamentos como “não sou louco para procurar um psiquiatra” – parte pela divulgação às vezes sensacionalista desta área da medicina – que diminuem a gravidade da situação enquanto o adoecimento do cérebro aumenta.
O único órgão não-transplantável do corpo humano, ainda não totalmente decifrado pelos estudiosos, também adoece. Talvez mais delicado do que outros órgãos e áreas da medicina, o adoecimento do cérebro não está ligado à sua estrutura, mas à comunicação entre as diversas áreas, que diferencia de indivíduo para indivíduo. Por isso, cuidar deste órgão exige acompanhamento psicológico, também. Cada um tem uma personalidade e funciona de jeitos diferentes, e a terapia ajuda a compreender melhor a realidade vivada. Mesmo quando há necessidade de intervenção com medicamentos no caso de transtornos mentais, em que assume o psiquiatra. O problema, é que se demora para perceber a necessidade de apoio de um profissional. Até 17% da população passa por pelo menos um episódio depressivo ao longo da vida, vivendo até uma chamada “depressão sorridente”, onde o indivíduo, apesar de não aparentar, se sente diferente. Rafaela confirma que a maioria dos pacientes procura um profissional quando percebe que “algo está errado”.
Então, é hora de buscar ajuda. Segundo estudo de Neury José Botega, neste momento, de cada 100 habitantes, 17 têm pensamentos relacionados ao suicídio; cinco farão um planejamento; três farão a tentativa; e um chegará ao atendimento hospitalar. Ainda, as estatísticas apontam que homens, separados ou solteiros, com idade avançada ou muito jovens, desempregados, são mais propícios a serem vítimas. Além disso, as mulheres têm “proteção indireta”, pois, segundo Pavan, mulheres conversam sobre emoções, quando estão juntas. Já os homens, têm vínculos de assuntos externos, como o futebol.

UM OLHAR NECESSÁRIO
A ajuda pode partir de uma percepção individual, quando se percebe, por exemplo, que se esquece da alimentação, uma atividade básica para o metabolismo; ou ainda de alguém próximo, com palavras como: “estou vendo que você não está bem, posso te ajudar”. Nesses casos, acolhimento e compaixão são as palavras-chave. Pois nunca vamos conseguir nos colocar no lugar do outro. O não-julgamento também é essencial. Se tornar disponível para a pessoa próxima e comentar sobre profissionais, convidar para uma caminhada, lembrá-la da medicação, sugerir uma ligação para o canal de atendimento do CVV, 188, para conversar com alguém diferente e preparado para o acolhimento, são os “passos de formiguinha” colocados por Rafaela, que podem evitar a morte de alguém.
O que não se pode, é tratar casos de saúde mental como banais, ou incompreensíveis, até porque, acreditar que quem tem “tudo” na vida é automaticamente imune ao adoecimento. Até porque, é válido lembrar que o suicídio é uma causa de morte evitável, e pode se tornar ainda menos comum quando se compreendem as formas de prevení-lo e perceber os seus sinais.






