Chegou a época do ano em que as condições ideais para a proliferação de uma doença endêmica no Brasil se manifestam. Unidades de Pronto Atendimento, Unidades Básicas de Saúde e Prontos-Socorros Hospitalares ficam superlotados devido a pacientes com seus sintomas clássicos. Trata-se de uma doença infecciosa que tem como principal vetor de transmissão o mosquito Aedes aegypti. Este inseto, em sua fase inicial de desenvolvimento, tem seus ovos eclodidos em regiões com elevação do nível de água devido às chuvas características deste período do ano.
Estamos, é claro, falando sobre a Dengue, uma doença febril aguda de origem viral que, em sua forma clássica, apresenta evolução benigna, auto-limitada, e em sua forma grave evolui para um quadro hemorrágico, caracterizado por distúrbios circulatórios que podem levar um paciente ao óbito. Constitui-se em um sério problema de saúde pública, sendo oneroso para o nosso Sistema Único de Saúde, facilitado por problemas sanitários tanto por parte das políticas públicas quanto pelo descuido da própria população em seus lares ou ambientes de trabalho.
Seus sintomas habituais incluem febre, caracterizada por temperatura axilar acima de 37,8°C, sendo que geralmente o quadro febril é mais severo e com início abrupto, dores de cabeça, na região atrás dos olhos, erupções cutâneas e dores musculares intensas, a ponto de historicamente já ter sido apelidada de “febre quebra-ossos”. O tempo de sintomas costuma variar entre dois a sete dias, podendo raramente chegar a 10 dias.
Seus sinais clínicos de alarme envolvem dor abdominal importante, vômitos geralmente persistentes, queda na pressão, que por vezes pode ser notada na mudança postural, e em casos mais graves, sangramentos, aumento dos batimentos cardíacos associados a extremidades frias e pulsos finos, indicando falha no sistema circulatório. Este período crítico geralmente ocorre na transição do período febril para o afebril.
Durante o tempo em que trabalhei na unidade de internação e terapia intensiva no Hospital Regional do Oeste de Chapecó, foram poucos os casos que presenciei com tal nível de gravidade, porém um quadro hemorrágico de Dengue, apesar de incomum, pode ser dramático e facilmente levar o paciente a um estado irreversível se não identificado e manejado rapidamente e agressivamente.
A identificação precoce da gravidade é fundamental para um desfecho positivo para o caso. Inicialmente, o paciente é classificado em quatro diferentes níveis de gravidade que definirão o fluxo do atendimento, sendo realizada notificação em todos os pacientes suspeitos, sorologias para identificação do vírus, e hemogramas seriados, exame de sangue que pode demonstrar sinais de gravidade que, interpretado juntamente com o exame clínico, pode levar o médico à decisão de internação hospitalar para um acompanhamento contínuo e manejo mais agressivo da doença.
É importante ressaltar aqui algumas diferenças para outras doenças infecciosas ou infectocontagiosas, para que nossa população tenha em mente os possíveis diagnósticos alternativos na suspeita de dengue. A doença é classificada como um tipo de Arbovírus, levando a um quadro viral que tipicamente não costuma apresentar sinais e sintomas respiratórios. Portanto, se você apresentar tosse seca ou com secreção, coriza ou obstrução nasal, dores de garganta, alterações no paladar ou no olfato, a possibilidade de um diagnóstico alternativo é significativa e deve ser considerada pelo seu médico. Entre esses diagnósticos estão os vírus respiratórios, como os causadores do resfriado comum, influenza e coronavírus.
A vacinação para Dengue passou por seus estágios finais de ensaios clínicos, ou seja, estudos na população, demonstrando uma boa eficácia contra suas variantes, e está em estágios iniciais para posterior implementação universal no SUS, melhorando assim o futuro panorama da doença no Brasil, porém os resultados e todos seus benefícios irão ser perceptíveis a médio e longo prazo.
Portanto, mesmo sendo uma doença com baixa mortalidade, com três pacientes a cada mil em média levando à morte, a falta de cuidados básicos pode levar ao aumento do número de casos e dos custos com a saúde pública, e, principalmente, ao aumento do número de óbitos. A doença pode ser branda e passar quase despercebida para você, mas pode ser fatal para seu vizinho.
E lembre-se, busque atendimento médico na suspeita de dengue e nunca se automedique, pois o uso indevido de algumas medicações pode piorar o seu quadro clínico.
Dr. Leonardo Hansen
Formado em Medicina pela Universidade Luterana do Brasil Médico especialista em Medicina Interna pela Universidade Federal da Fronteira Sul
Formado em Medicina em 2015, com anos de experiência no meio intra-hospitalar, Dr. Leonardo Hansen realizou sua especialização na área de Clínica Médica, com duração de dois anos, atuando posteriormente em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), incluindo as unidades COVID-19, trabalhando também como hospitalista. Trabalhou também nos setores de Pronto-Socorro e no setor de internação clínica no Hospital Regional do Oeste. Reside em Chapecó e hoje tem foco em atendimentos clínicos ambulatoriais sob contato prévio, atende em unidades de urgência e emergência e realiza plantões hospitalares.
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