domingo, dezembro 15, 2024
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Em sete meses, atendimento a pessoas em situação de rua aumenta 300% em Chapecó

Foto: Diego Antunes/ClicRDC

Chapecó registrou 300% de aumento nos atendimentos a moradores em situação de rua, de Janeiro a Agosto deste ano. No primeiro mês de 2020, a equipe do Resgate Social realizou 400 atendimentos ao público. Já em agosto foram realizados 1600 – 1200 a mais que no início do ano. Os números foram repassados pela coordenadora do Resgate Social, Magliane Marta Bagnara. Segundo o tenente-coronel, Fabio Henrique Machado – Comandante do 2º Batalhão de Polícia Militar de Fronteira (2ºBPM/Fron) – a Polícia Militar registrou aumento nas denúncias de perturbação que seriam causadas por pessoas que se encontram nesta situação. De acordo com dados da Administração, são 60 pessoas, em média, que estão em situação de rua no município.


“Temos recebido a informação que essas pessoas estão, de alguma forma, perturbando o exercício do trabalho – de algumas lojas, proprietários  – e trânsito de algumas pessoas pelo centro da cidade. A gente tem, claro na medida do possível, se feito presente, estado junto com os empresários e comunidade, no sentido de coibir qualquer delito, qualquer intervenção feita por esses moradores de rua na região”, explicou o coronel.



De acordo com o comandante, as pessoas em situação de rua importunam as pessoas que vão tentar acessar uma vitrine, por exemplo. “As pessoas não conseguem, passam longe, porque eles estão meio que aglomerados na frente de uma loja. Fora isso, em horário de refeição eles estão pedindo comida para as pessoas. De alguma forma ameaçando as pessoas que acabam não dando alimento para eles. É mais esse tipo mesmo, uma importunação da segurança das pessoas, da tranquilidade”, relatou.

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Magliane explica que neste ano o atendimento aos moradores em situação de rua tem se intensificado.  “Temos percebido que tem vindo bastante gente de fora para o município. Em virtude disso, a comunidade tem nos ligado, na grande maioria preocupada com a condição deles. Alguns colocam que realmente tem havido uma perturbação, com relação a conduta”. Segundo ela, também há relatos das pessoa em vulnerabilidade de que estão sofrendo agressão física ou verbal.

Ninguém pode ser obrigado a deixar a situação

Tanto a PM, quanto o Resgate Social não podem obrigar as pessoas a deixarem as ruas.  

“Quando vamos ao local e eles não estão cometendo nenhum ilícito, conversamos com eles, orientamos que ali não é local para ficar – que as pessoas precisam ter acesso a vitrine, ter acesso ao restaurante, lanchonete, padaria. Quando a gente constata, que realmente ocorreu algum tipo de abuso, cometimento de crime, de consumo de drogas, fizemos de imediato a condução para a delegacia, pelo crime que a pessoa está cometendo. Até tem alguns que estão em situação de rua que já tem um histórico de atendimento de ocorrência”, explicou o comandante.

Em outros casos, a PM aciona as equipes do resgate social, para que façam o atendimento. Magliane explicou que a equipe, formada por 13 funcionários, oferta ao público os serviços disponibilizados pelo setor. No entanto, que não pode obrigar ninguém a deixar a rua ou  aceitar a intervenção do resgate. O trabalho feito é de sensibilização. 

“Fazemos a escuta dessas pessoas,  para conhecer a história. Entender a demanda, o motivo dela estar nessa situação. Então oferecemos desde o mais básico – que é o café da manhã, marmita, acesso a banho – que são necessidades primárias. Além de outras necessidades – que vão desde buscar restabelecer o vínculo familiar quando está rompido ou fortalecer”, explica. A equipe também faz encaminhamento para atendimento na área da Saúde, quando a pessoa necessita. Ou ainda, auxilia os moradores na confecção de documentos, currículo, agendamentos no balcão de empregos ou agendamento de entrevistas de emprego.

Dois meses atrás conseguimos que em torno de 40 pessoas fossem contratadas pelo mercado de trabalho”, destacou a coordenadora. 

Não dê esmola, ofereça ajuda

A coordenadora do Resgate Social destaca que antes de parar em situação de rua, geralmente, a pessoa passa por uma sequência de fatores, como rompimento dos vínculos familiares ou transtornos mentais. “Têm estudos que mostram que 68% das pessoas em situação de rua têm um transtorno, alguma comorbidade mental que acaba levando à situação de rua, ou a usar drogas”, observou.

Retirar as pessoas da rua é um desafio, pois elas não podem ser obrigadas. A esmola, segundo a profissional, acaba sendo um estímulo para a permanência na situação.  

“Alguns têm o desejo de voltar a ser produtivo. Eles nos falam que tem vontade de voltar a trabalhar e o quanto que as vezes é difícil conseguir uma oportunidade. Por outro lado, uma das dificuldades, que a gente enfrenta muito, é a questão da esmola. Temos refletido muito, porque eles nos colocam que chegam a ganhar valores bem expressivos”, pontuou.

Diante disso, Magliane explica que muitas pessoas dão dinheiro (esmola ), com boa intenção, mas isso faz com que elas permaneçam na situação, sem buscar outras formas de sustento e de autonomia. Ela acrescenta ainda que a equipe escuta das pessoas em situação de vulnerabilidade que os chapecoenses são generosos. Chegam a relatar que recebem dinheiro, inclusive, quando estão em algum espaço dormindo. 

Essa pessoa precisa  –  mais que essa condição financeira – ser olhada com dignidade”, analisou a coordenadora. A orientação de Magliane é para que se evite dar esmola e que acione a equipe de resgate, para auxiliar esse público. Podem entrar em contato pelos telefones (49) 3319-1201 ou (49) 3319 -1209.

Reflexos na segurança pública

O tenente-coronel Henrique destacou que a situação causa danos à segurança pública. “Primeiros que eles entendem que alí é o quintal da casa deles, acabam fazendo alimentação, jogam restos de comida na rua, jogam papel, marmita quando ganham – isso tudo vai parar na rua e acaba sendo lixo que vai se acumulando na cidade. Isso gera a insalubridade pública da cidade. Na questão tranquilidade pública, os transeuntes tem que fazer a travessia da rua, por receio de passar na frente deles, atravessam a rua e colocam em risco a sua própria vida ao não atravessar em faixa de pedestre“, destacou.

O coronel destaca ainda que também há casos de pequenos delitos, como furto, que geram insegurança. O comandante disse que diante das reclamações do comércio, foi montada uma operação entre a PM, Guarda Municipal e Assistência Social do Município, para atender essas demandas. “Essa operação, ela vai continuar acontecendo, de forma permanente. Sempre que um comerciante, alguém se sentir lesado por conta da ação desses moradores de rua, nós vamos agir, claro dentro do possível e das disponibilidade de ocorrência e guarnições que temos disponível”, comentou.

Quem são?

A coordenadora Magliane destacou que a equipe do Resgate Social atende pessoas de várias nacionalidades que estão em situação  de rua em Chapecó. Ela disse que há pessoas de regiões da África e de países do Norte europeu, mas que massivamente são haitianos e venezuelano. 

“A gente está vivendo um momento bem interessante. Chapecó tem se destacado como uma cidade cheia de oportunidades de trabalho. A gente recebe pessoas do país inteiro também. É muito maranhense, do Piauí, do Rio Grande do Sul, mas o número mais expressivo é de pessoas do Norte, que vêm com esse sonho também de conseguir trabalho, de conseguir melhorar de vida e às vezes não consegue”, ressaltou. 

Acompanhamento 

Os chapecoenses tem se deparado, cada vez mais, com pessoas em situação de rua na região central do município. Um dos casos que chamou a atenção da comunidade, e que foi enviada ao ClicRDC, é das pessoas que vivem em um espaço, no prédio onde ficava a antiga Moto Jeans, na rua Sicília. Segundo Magliane, três malabares vivem no local. Ela comentou que o Resgate Social está a par da situação e que faz o acompanhamento dessas pessoas há cerca de três meses.

A coordenadora comentou que houve reclamações por conta do lixo no local. “Na situação foi realizada uma abordagem pedagógica – onde é orientado ele como proceder em relação ao lixo, que precisam manter o espaço organizado, como uma forma de manter um bom convívio com todo mundo”, disse.

Magliane relatou que dois dos moradores são do Uruguai. Ela comentou que foram compradas passagens de ônibus para eles retornarem ao país (um benefício disponível), mas que eles não foram, porque adotaram um cachorro e não podiam embarcar com o animal. Segundo a coordenadora, eles informaram que já conseguiram alugar uma casa e para onde devem se mudar no fim de semana.

Eles colocam que trabalham na sinaleira, como artistas. Eles entendem que estão executando um serviço e que quem gostar do trabalho deles, pode contribuir. Eles dizem até que Chapecó é muito generosa com eles. Estão conseguindo ganhar o suficiente para tentar locar uma casa e continuar com o trabalho deles, mas de uma forma mais organizada”, explicou.

Os demais serviços do Resgate Social também foram ofertados ao grupo. Segundo ela, eles acessam o banho fornecido pelo resgate, algumas vezes pegaram marmita. Porém, já estão conseguindo comprar o próprio alimento. 

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