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Coragem em meio ao luto: mulher assume propriedade rural sozinha após esposo morrer

Hoje ela e a filha comandam os trabalhos


Por: Alessandra Bagattini

Zelinda e sua filha Kamille. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Precisei vencer o medo”: uma frase que resume o novo capítulo da história de Zelinda Inês Carnevalli. Filha de agricultores e criada no meio rural, ela sempre soube das obrigações de uma propriedade, mas precisou se readaptar após o esposo falecer. Com uma filha pequena, deixou a insegurança de lado e seguiu com os investimentos na chácara, situada na Linha Costa do Irani, interior de Xanxerê, no Oeste de Santa Catarina.

Sempre cheia de sonhos, antes de se casar, realizou um deles: concluir a graduação em técnica em enfermagem. Atuou na área, mas o amor por permanecer no campo a levou a trabalhar lado a lado com o homem que havia escolhido para dividir os dias. Juntos, eles investiram na terra, construíram espaço para criação de suínos e gado de leite e também tiveram a primeira filha: Kamille, que ainda menina, aos sete anos, encarou uma das mais duras realidades: a dor do luto. Seu pai, que era responsável pelos trabalhos da propriedade, foi vítima de uma parada cardiorrespiratória. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu. Foi por ela e nela que Zelinda conseguiu forças para continuar.

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“Eu perdi o chão. As dificuldades foram muitas. Precisei assumir a propriedade, e embora já trabalhasse, a responsabilidade aumentou. Educar a filha sozinha, realizar os afazeres sozinha e o pior de tudo: não ter mais ninguém do meu lado. Eu ajudava com os suínos e gado, mas não administrava. Toda a parte de banco e negociação, era só ele que fazia. Eu sabia trabalhar. Quando ele faleceu, simplesmente fiquei sem chão. Enfrentei muitas dificuldades por não saber negociar, afinal aqui não deixa de ser uma empresa, que você precisa saber equilibrar. Foi bem difícil”, relembra Zelinda.

O ano de 2011 segue na memória e no coração, afinal, depois deste período, foram dias e noites trabalhando, entre as horas, as lágrimas se faziam presentes. Junto delas a saudade, mas também o medo. O pensamento de solidão a acompanhava, mas Kamille, mesmo pequena, se tornou uma grande força para sua mãe.

“Só tinha a minha filha, às vezes, eu passava noites trabalhando. Tive muito medo de ficar sozinha. Passava insegurança de que poderia chegar alguém. Isso eu precisei de vencer. Passei dificuldades para me adaptar sem a companhia dele, ficava aquele vazio. Chegava dentro de casa e ia dormir. Foi um período de solidão. Marido e mulher tem um planejamento, e eu não tive mais isso. Hoje, minha filha é minha companhia, mas eu demorei para me acostumar. Atualmente, vivemos bem, felizes. Vejo que conseguimos dar a volta por cima. Kamille já tem 18 anos e aprendeu a trabalhar comigo”, cita.

Zelinda e sua filha Kamille. (Foto: Arquivo Pessoal)

Preconceito Zelinda enfrentou e muito, mas optou pela persistência. Aos poucos, tudo foi se ajeitando, e o sorriso no rosto mostra que as adversidades foram vencidas, por mais que a dor da saudade se faça presente no coração.

“Eu até pensei em desistir de tudo, morar na cidade, mas o amor pela terra, o carinho que temos pelo trabalho nos fez permanecer. As pessoas chegavam e falaram: ‘você é mulher’. Não foi e não é fácil, mas eu optei por ficar pelo gosto, pela satisfação e por minha filha também ser apaixonada por tudo aqui. No começo, o pessoal se espantava bastante quando via que era uma mulher que trabalhava aqui. Sempre duvidavam se sabíamos ou não fazer os serviços. Hoje mudou”, frisa Zelinda.

Zelinda. (Foto: Arquivo Pessoal)

Apesar das dificuldades, Zelinda sempre deu prioridade a sua filha, que hoje já cursa graduação na área e tornou-se o alicerce.

“Penso em permanecer no campo, acho que a vida aqui é tranquila e trabalhar com os animais é muito bom. Enquanto eu puder, vou continuar. Quanto a minha filha, não decido a vida dela, mas acredito que ela vai ficar tocando a propriedade. É meu orgulho”, conclui Zelinda.

Kamille. (Foto: Arquivo Pessoal)
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