Há 30 anos, na manhã quente do dia 7 de fevereiro de 1995, a cidade de Chapecó acordou com a notícia do falecimento do pioneiro Plínio Arlindo de Nês e do prefeito Dilso Cecchin. Ambos pereceram por complicações cardiológicas semelhantes, entre seis e sete horas da manhã.
O impacto psicológico foi brutal. As pessoas não queriam crer. Muitos acreditavam que estava ocorrendo um equívoco nos meios de comunicação. Não, não poderiam morrer no mesmo dia, quase à mesma hora, duas das mais admiradas lideranças do município, cada uma em sua casa, no começo de um ensolarado dia daquele verão. Havia uma eletricidade tangente no ambiente. O ar ficou pesado e quase irrespirável. O mundo político e econômico desceu em Chapecó, enquanto Dilso Cecchin era pranteado no salão do Clube Industrial e, Plínio De Nês, no ginásio do Clube Recreativo Chapecoense.
Plínio De Nês era uma figura humana extraordinária. Chegou ao Oeste de Santa Catarina no lombo de uma montaria e, 40 anos depois, detinha uma das marcas mais conhecidas em vários continentes. Fez do seu conglomerado uma referência mundial em qualidade de alimentos cárneos. A marca Chapecó tornou o município conhecido no Brasil e no mundo. Aperfeiçoou e ampliou o sistema integrado de produção e foi o precursor da diversificação da base industrial da região. Sua empresa tinha a maior e mais intensa integração com a comunidade regional. Apesar da grande influência e prestígio que detinha, nunca perdeu a humildade. Era um benfeitor. Deixou esta dimensão aos 74 anos.
Dilso Cecchin fazia parte de uma emergente geração de novas lideranças que ascendia aos cargos eletivos de Chapecó e que tinha De Nês como um de seus paradigmas. Depois de uma célebre passagem pela Coopercentral ao lado do grande líder do cooperativismo brasileiro, Aury Luiz Bodanese, Cecchin tornou-se vice-prefeito de Milton Sander e secretário da Agricultura no governo Vilson Kleinübing. A morte, pérfida e traiçoeira, estancou sua trajetória no vigor dos 42 anos, na metade de seu mandato de prefeito de Chapecó, quando se preparava para inaugurar uma fase de grandes obras e investimentos públicos, depois de dois anos redefinindo o perfil do aparelho estatal-municipal.
Administrador probo e competente, atento aos indicadores de desempenho e adepto do planejamento, implantou uma gestão racional. Reduziu despesas, diminuiu o tamanho da máquina, não tolerou nepotismo e exigiu eficiência gerencial de seu secretariado. As críticas dos adversários e a incompreensão de muitos aliados não esmoreceram sua convicção. Não permitiu o uso eleitoral da Prefeitura.
Plínio De Nês e Dilso Cecchin foram amigos e correligionários. Mestre e aprendiz, suas posturas e atos exteriorizavam uma formação embasada em valores morais idênticos Professavam o apego ao trabalho, amor à terra, solidariedade aos justos, férrea crença na liberdade de iniciativa e na igualdade de oportunidade.
Talvez algum dia nossas universidades possam pesquisar a importância histórica dessas duas personalidades para o desenvolvimento econômico e político do grande Oeste de Santa Catarina. Talvez tenham partido juntos para nos deixar uma mensagem. Talvez a marcha inexorável do tempo tenha razões ainda indecifráveis.
O tempo é, realmente, uma variável incontrolável. Segue sua marcha imperturbável, decreta a vetustez de uns, o esquecimento eterno de outros ou a eterna consagração de poucos: aqueles que vencem a poeira das décadas e dos séculos e continuam resplandecentes na memória social. É o caso de Cecchin e De Nês.
