
Há alguns anos, quando falávamos em comida perigosa, pensávamos em algo estragado, contaminado ou mal armazenado. Hoje, o maior risco não está na panela mal lavada, mas no corredor brilhante do supermercado. O que parece prático, barato e “delicioso” está cobrando uma conta pesada em saúde, qualidade de vida e futuro.
Os alimentos ultraprocessados não são comida, são produtos comestíveis. São feitos para durar meses, enganar o paladar, viciar e fazer você comprar de novo. São resultado de um laboratório, não da lavoura, da horta ou do fogão. E isso não é exagero. O Brasil e o mundo já têm pesquisas suficientes mostrando: quem consome muito ultraprocessado engorda mais, adoece mais e morre mais cedo.
Refrigerantes e bebidas açucaradas são talvez o exemplo mais claro. Não alimentam ninguém, não nutrem, não fortalecem. São açúcar líquido que desregula o metabolismo, aumenta o risco de diabetes, prejudica o coração e ainda substitui o hábito de beber água. Mesmo assim, continuam sendo tratados como algo “normal”, quase cultural, presente no almoço de domingo, na festa infantil, no lanche da escola.
Outro grupo assustador é o dos embutidos: salsicha, presunto, salame, mortadela, linguiça. Eles carregam sal em excesso, gorduras ruins e conservantes que já foram associados ao aumento do risco de câncer, especialmente o de intestino. Apesar disso, seguem sendo vendidos como solução rápida, “lanche prático”, “opção econômica”. Barato agora, caro depois. A conta chega na farmácia, no hospital, na dor da família.
Os salgadinhos de pacote, biscoitos recheados, bolos prontos e doces industriais seguem a mesma lógica. Muito açúcar, muita gordura ruim, muitos aditivos e quase nenhum nutriente. São produtos feitos para explodir sabor na boca e confundir o cérebro, fazendo a pessoa comer além do necessário. Não é fraqueza, é estratégia da indústria.
E ainda há os “disfarçados de saudáveis”: produtos “zero”, “light”, “fit”, “sem açúcar”. Muitos deles trocam açúcar por adoçantes artificiais, alteram a flora intestinal, afetam o apetite e mantêm a pessoa presa ao gosto exageradamente doce. Parece opção saudável, mas mantém o mesmo ciclo de dependência alimentar.
O resultado está diante de nós: mais obesidade, mais crianças doentes, mais jovens com problemas de pressão, mais adultos com diabetes, mais idosos sofrendo com doenças evitáveis. Não é coincidência. É consequência.
Mas não dá para colocar toda a culpa nas pessoas. Vivemos numa sociedade que empurra o ultraprocessado como solução de tempo, economia e felicidade. O problema é que a praticidade da prateleira vira sofrimento no futuro. Precisamos discutir isso com responsabilidade pública, educação alimentar nas escolas, fiscalização séria, políticas que incentivem comida de verdade e desestimulem produtos que adoecem a população.
Não se trata de demonizar quem, de vez em quando, come uma pizza congelada ou toma um refrigerante. Trata-se de alertar para o perigo de transformar “de vez em quando” em rotina. Comida de verdade não é moda, é base de saúde, dignidade e vida plena.
O inimigo silencioso não chega de surpresa. Ele está estampado em cores vivas, embalado com promessas e sorriso no comercial. Cabe a nós, como sociedade, decidir se vamos continuar mordendo a isca — ou se vamos voltar a respeitar o prato como fonte de saúde, e não como armadilha.





