
Quando Flávio Bolsonaro anunciou que assume a “missão” dada pelo pai de disputar a Presidência em 2026, muita gente correu para decretar: “é o nome errado, na hora errada”. A reação imediata do mercado financeiro, com queda forte da bolsa e desvalorização da moeda brasileira diante da moeda norte-americana, virou manchete como se fosse sentença definitiva sobre o futuro da candidatura.
Mas, olhando com calma o quadro político, é possível defender exatamente o contrário: Flávio é hoje um dos poucos nomes capazes de reorganizar a direita, preservar o legado de um grande bloco de eleitores e, ao mesmo tempo, abrir espaço para correções de rota que o país precisa.
A força de um sobrenome que ainda pesa nas urnas
Flávio não é um desconhecido lançado às pressas. É senador desde 2019, depois de quatro mandatos como deputado estadual do Rio de Janeiro, com longa trajetória na política local, principalmente em temas de segurança pública.
A diferença agora é que ele chega ao cenário nacional com duas marcas que nenhum outro pré-candidato de direita possui ao mesmo tempo:
- A bênção explícita do pai, que o escolheu publicamente como sucessor político para o projeto de 2026.
- Uma base já formada de milhões de eleitores, que seguem enxergando na família Bolsonaro um contraponto ao projeto do atual governo federal.
Em outras palavras: qualquer candidato que queira disputar de verdade com o presidente atual precisa primeiro conquistar essa base. No caso de Flávio, ela já nasce com ele. Isso reduz o risco de fragmentação da direita e evita a dispersão de votos em figuras que, embora simpáticas, não conseguem unir o campo conservador.
A oportunidade de virar a página sem rasgar o livro
Há um elemento incômodo para parte dos analistas: o ex-presidente, hoje inelegível até 2030 e condenado por tentativa de golpe de Estado, está preso.
Isso é um fato. O que muitos não admitem é que justamente por isso a escolha de Flávio pode ser vista como uma transição necessária:
- Mantém-se o projeto de direita que defende segurança, liberdade econômica, valores conservadores e crítica ao gigantismo do Estado;
- Mas abre-se espaço para um novo estilo de liderança, menos impulsivo, mais institucional, capaz de dialogar com setores que romperam com o bolsonarismo nos últimos anos.
Flávio já demonstrou, no Senado, um perfil mais negociador do que o pai. Ao assumir a candidatura, ele pode transformar uma herança pesada em pontes com:
- empresariado que quer previsibilidade;
- eleitores conservadores cansados de crise permanente entre Poderes;
- parte do centro que discorda do atual governo, mas teme aventuras institucionais.
Ou seja: não se trata de abandonar o legado, e sim de amadurecê-lo.
O susto do mercado e o medo do rótulo
Quando a notícia da escolha de Flávio foi confirmada por lideranças do Partido Liberal, o reflexo negativo imediato da bolsa e da moeda brasileira foi usado como argumento contra a candidatura.
Mas mercado financeiro reage a expectativas, não a destinos inevitáveis. O que se viu foi:
- frustração de uma aposta prévia em outros nomes de direita, mais óbvios para analistas econômicos;
- preocupação com a possibilidade de radicalização do discurso em ano eleitoral.
Isso não significa que Flávio seja incapaz de construir pontes com investidores e agentes econômicos. Significa que ele terá de fazer o dever de casa:
- apresentar uma equipe de economia respeitável;
- deixar claro compromisso com responsabilidade fiscal;
- mostrar respeito às regras do jogo institucional.
Se fizer isso, o mesmo mercado que hoje reage com cautela pode tornar-se parceiro. O histórico recente do país mostra que o capital não é fiel a partidos, mas à combinação de estabilidade, crescimento e previsibilidade.
Segurança, custo de vida e o Brasil real
Pesquisas recentes indicam que a insatisfação com segurança pública, custo de vida e sensação de corrupção segue alta entre os brasileiros.
Esses temas são o terreno natural da direita, e é justamente aí que uma candidatura como a de Flávio pode ganhar musculatura:
Segurança pública: Flávio vem de um estado marcado pela violência urbana e conhece, de perto, o dia a dia de policiais, moradores de periferias e comerciantes que vivem sob ameaça constante. É um campo em que pode propor reformas com legitimidade.
Custo de vida: com crescimento econômico fraco e juros ainda elevados, as famílias sentem o peso no orçamento. Uma oposição organizada tem espaço para questionar as prioridades do governo atual e defender reformas que destravem investimentos privados.
Combate à corrupção: a indignação com escândalos e favorecimentos segue viva na sociedade. Um projeto de direita que combine firmeza contra corrupção com respeito às instituições pode dialogar tanto com quem votou em Jair Bolsonaro quanto com eleitores que hoje se dizem órfãos politicamente.
Ao colocar esses temas no centro da campanha, Flávio pode conectar o debate nacional ao cotidiano de quem pega ônibus lotado, sente o preço do gás e teme pela segurança dos filhos.
As pedras no caminho
Defender a candidatura de Flávio não significa ignorar os desafios, que são grandes.
- Rejeição herdada
A mesma marca que o fortalece junto à base conservadora o torna alvo preferencial de rejeição em parte do eleitorado. Setores que associam o sobrenome Bolsonaro à pandemia, à crise institucional e ao episódio de oito de janeiro tendem a rejeitar qualquer nome da família. - Ponte com o centro político
Lideranças de partidos intermediários já indicaram desconforto com a escolha de Flávio, cogitando apoiar outros governadores ou nomes de centro-direita. Construir pontes com esse grupo será decisivo para qualquer vitória em segundo turno. - Questionamentos éticos do passado
O caso que envolveu o antigo gabinete de Flávio na Assembleia do Rio de Janeiro, embora tenha sido arquivado pela Justiça, continuará sendo explorado pelos adversários como crítica moral. Caberá à campanha apresentar os fatos e mostrar que decisões judiciais foram respeitadas.
Em resumo: não existe caminho fácil. O que se pode afirmar é que a candidatura de Flávio coloca essas questões às claras, permitindo ao eleitor decidir com base em debate transparente.
Por que faz sentido apostar em Flávio agora
Num país cansado de gritos e crises sucessivas entre os Poderes, a escolha de Flávio Bolsonaro pode representar uma chance de evolução dentro do próprio campo conservador:
- mantém-se a defesa de valores caros a milhões de brasileiros, como liberdade religiosa, respeito à família, combate à criminalidade e incentivo ao empreendedorismo;
- abre-se espaço para uma geração mais jovem, com a responsabilidade de aprender com erros recentes e evitar rupturas institucionais;
- oferece-se ao eleitorado uma alternativa de direita que não renega suas raízes, mas se dispõe a dialogar com quem discorda.
Flávio não é salvador da pátria. Mas, num cenário em que a polarização parece eterna, ele pode ser a figura capaz de canalizar a energia de um grande bloco de direita para dentro das regras do jogo, com propostas firmes para segurança, economia e combate à corrupção.
Se conseguirá fazer isso, as urnas dirão. Mas desqualificar sua candidatura de saída, apenas por quem ele é filho, é ignorar a realidade política de um país em que milhões seguem buscando, na direita, uma alternativa ao projeto hoje no poder.





