
Santa Catarina tem uma característica que poucos estados brasileiros conseguem reunir com tanta clareza: uma cadeia do frango completamente verticalizada. Não se trata apenas de produzir carne de aves em grande escala — o que já seria suficiente para colocá-la entre os maiores players do país. Trata-se de algo mais profundo: o estado domina todas as etapas, das máquinas que automatizam granjas e frigoríficos ao pacote final que chega à mesa do consumidor brasileiro e estrangeiro.
Em um país acostumado a falar de “potência do agronegócio”, Santa Catarina oferece um exemplo concreto do que esse termo realmente significa quando passa do discurso para a prática.
A base dessa força está na indústria. E é aqui que o estado se destaca como poucos. Chapecó, Xanxerê, Criciúma, Urussanga e outras cidades do interior formam um ecossistema fabril capaz de equipar boa parte do setor avícola nacional. Máquinas para ração, sistemas de ventilação e alimentação automatizada, embaladoras verticais, equipamentos de corte, selecionadoras, dosadoras, processadoras e plataformas industriais — tudo isso é fabricado aqui, com engenharia catarinense, metalmecânica robusta e capacidade de exportação. Empresas como Usinox, Plasson do Brasil, Coopermaq, Equitec Industrial, RM Indústria, Semil e outras tantas compõem um cinturão tecnológico que alimenta literalmente a linha de produção que, mais tarde, alimentará pessoas.
Esse ponto é essencial: Santa Catarina não depende de outros estados nem de importações para operar sua avicultura moderna. O que seria, em outros lugares, uma cadeia fragmentada, aqui funciona como um sistema integrado, no qual as máquinas, as granjas, as fábricas de ração, os incubatórios, os frigoríficos e a logística falam a mesma língua — a língua da eficiência.
O resultado aparece nos números. O estado responde por cerca de treze por cento da produção nacional de carne de frango, mas esse percentual ganha outra dimensão quando se olha para a exportação: mais de vinte por cento do frango exportado pelo Brasil sai de Santa Catarina. É como se, para cada cinco navios carregados de carne de aves no país, um tivesse origem catarinense. Isso não acontece por acaso. É o efeito cumulado de décadas de investimento, organização, controle sanitário rígido e presença de cooperativas que entendem que competitividade não se constrói apenas com volume, mas com qualidade e previsibilidade.
E a verticalização segue até o consumidor. A carne produzida em granjas altamente tecnificadas passa por abatedouros que usam máquinas fabricadas dentro do próprio estado, é embalada em equipamentos igualmente catarinenses e depois distribuída por redes que operam com o nível de controle sanitário mais elevado do país. Quando chega ao supermercado ou ao restaurante, o consumidor final — sem perceber — está comprando não apenas um produto, mas a soma de dezenas de etapas industriais que nasceram no mesmo território.
No fundo, Santa Catarina conseguiu algo raro: transformar o frango em um símbolo de desenvolvimento regional. Enquanto outros estados disputam fatias de mercado importando máquinas, insumos ou tecnologia, o território catarinense integra tudo: indústria, produção primária, inovação, cooperativismo, exportação e reputação internacional. Cada lote de carne embarcado não leva apenas proteína; leva a prova de que uma cadeia verticalizada é capaz de gerar empregos, renda, impostos, inovação e imagem positiva.
Num momento em que o Brasil discute competitividade global, Santa Catarina demonstra que não basta ter vocação agrícola — é preciso ter sistema, engenharia, sanidade, organização e indústria própria. A avicultura catarinense é mais que um setor econômico: é uma estratégia de estado. E, pelo visto, uma estratégia que continua dando muito certo.






