
Quatro mortes em menos de uma semana. Quatro famílias destruídas. Quatro vidas que não voltam.
O que mais precisa acontecer para que o Oeste de Santa Catarina trate segurança no trabalho como prioridade absoluta?
A sequência de tragédias recentes — queda de altura, máquina de mistura, estrutura metálica que cede e uma tora que atingiu um trabalhador durante o descarregamento — expõe um diagnóstico duro: nossas empresas não estão preparadas para lidar com risco. E, quando a cultura de segurança não está no centro da operação, ela é substituída pelo improviso. E o improviso mata.
Este artigo não é para apontar culpados, mas para orientar. Porque, se nada mudar, não estamos longe da quinta morte, talvez amanhã, talvez antes do próximo turno.
O que as empresas precisam fazer agora — não no mês que vem, não quando “der tempo”
- Parar e revisar tudo o que representa risco imediato
Toda empresa que trabalha com altura, máquinas, cargas pesadas, estruturas metálicas ou processos industriais deve realizar, ainda esta semana, uma revisão urgente:
- máquinas que precisam de travas ou barreiras;
- estruturas que exigem reforço;
- equipamentos de proteção que não estão sendo usados;
- rotinas que se tornaram “automáticas” demais.
Uma simples checagem técnica teria evitado pelo menos dois dos acidentes ocorridos nos últimos dias.
- O treinamento precisa ser real, não só assinado
Treinamento não é um papel na pasta de funcionário.
Treinamento é prática.
Empresas precisam investir em:
- simulações de situações de risco;
- orientação prática sobre uso de equipamentos;
- demonstrações reais de como quedas acontecem;
- revisão de hábitos perigosos que viraram “normais”.
Dói admitir: muitos dos acidentes fatais ocorrem não porque o trabalhador não sabe o que fazer, mas porque aprendeu errado — ou aprendeu a sobreviver no improviso.
- Interditar tarefas que dependam de sorte
Se uma atividade só é concluída sem acidente quando “todo mundo colabora”, “ninguém escorrega”, “a carga não desliza” ou “a máquina não vibra demais”, esta tarefa está errada.
Empresas precisam revisar:
- descarregamento de cargas;
- limpeza interna de máquinas;
- montagem de estruturas;
- trabalho em altura.
Todo processo que depende de sorte é, por definição, inseguro.
- Dar poder aos trabalhadores para dizer “não”
É preciso criar uma cultura em que qualquer colaborador possa recusar uma tarefa insegura sem medo de represália.
O trabalhador que interrompe um serviço perigoso não é problema.
Ele é o que mantém a empresa viva.
Empresas que ignoram alertas de seus colaboradores estão treinando o terreno para a próxima tragédia.
- Colocar a liderança dentro do processo de segurança
Diretores, gerentes e coordenadores não podem falar de segurança só na reunião de segunda-feira. Precisam:
- visitar o chão de fábrica;
- acompanhar tarefas de risco;
- verificar o uso de equipamentos;
- incentivar condutas seguras;
- corrigir na hora comportamentos perigosos.
Cultura se constrói pelo exemplo.
Quando a liderança não usa equipamento e corta caminho, gera permissão silenciosa para que todos façam igual.
O custo real da negligência
Morte em ambiente de trabalho não é acidente: é falha de gestão.
E as empresas que tratam segurança como custo logo descobrem que o preço da negligência é muito mais alto:
- prejuízo financeiro;
- paralisação de operações;
- responsabilização legal;
- perda de credibilidade;
- trauma coletivo;
- e o mais grave: vidas que se vão sem volta.
Nenhum resultado operacional justifica uma morte.
O Oeste de Santa Catarina é uma das regiões mais produtivas do país. Mas produtividade sem segurança é apenas uma engrenagem que tritura pessoas.
As empresas têm, agora, uma oportunidade rara: transformar quatro tragédias em ponto de inflexão.
Revisar processos.
Mudar comportamentos.
Cortar hábitos perigosos.
Ouvir seus trabalhadores.
Preparar sua liderança.
Tratar segurança como valor estratégico, não como formalidade.
Se isso for feito, teremos um futuro mais humano, mais profissional e mais inteligente.
Se não for, continuaremos escrevendo sobre mais um trabalhador que não voltou para casa.






