terça-feira, novembro 25, 2025
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Um governo acuado que terceiriza seu próprio papel

Confira a coluna do professor Dr. Givanildo Silva

Prof. Givanildo Silva – Doutor em Ciências Contábeis e Administração.

O Brasil vive hoje um fenômeno preocupante: temos um governo federal que já não governa. Em vez de organizar maioria, dialogar com o Congresso e conduzir a condução dos assuntos públicos com firmeza, o Executivo parece cada vez mais refém de suas próprias fragilidades, abrindo espaço para uma transferência silenciosa de poder ao Judiciário.

Há quem tente suavizar esse movimento dizendo que se trata apenas de “disputa institucional”. Mas a verdade é mais simples e mais incômoda: quando o governo perde força política, quando não dialoga com as lideranças e quando não consegue construir apoio, ele acaba escondendo sua fraqueza atrás de decisões judiciais que deveriam ser exceção, não regra.

O rompimento mais recente — e simbólico — veio de Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados. Ao cortar relações políticas com o líder do partido do governo na Casa, ele não apenas expôs o conflito interno; expôs um governo perdido, que já não controla sequer sua própria articulação. Do outro lado da praça, Davi Alcolumbre, presidente do Senado, segue o mesmo caminho ao se afastar do interlocutor do governo na Casa. Assim, as duas figuras mais importantes do Poder Legislativo caminham juntas para dizer o que Brasília inteira já percebeu: o governo perdeu o rumo.

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O resultado desse isolamento é evidente. Sem apoio no Congresso, o governo recorre a uma tática cada vez mais comum: permitir que as grandes decisões do país sejam empurradas para o Tribunal Superior, transformando seu próprio enfraquecimento em dependência judicial. Em vez de política, liminares. Em vez de votos, decisões monocráticas. Em vez de diálogo, confronto permanente.

É como se o governo tivesse aceitado a própria incapacidade e, diante dela, buscasse no poder Judiciário o amparo que não encontra mais na arena política. Esse movimento enfraquece o equilíbrio entre os Poderes, mas, sobretudo, enfraquece a democracia. Não há país sólido quando as regras são escritas por juízes porque o Executivo não consegue fazê-lo de forma legítima.

E o mais grave é que o governo parece acreditar que esse deslocamento de poder passará despercebido. Que a população não perceberá que a ausência de liderança no Congresso cobra um preço alto em cada negociação atropelada, em cada votação perdida, em cada pauta represada. A fragilidade é pública, explícita e diária.

Quando um presidente perde o diálogo com os presidentes das Casas Legislativas, quando seus líderes já não conseguem conversar nem entre si, quando sua articulação se desmancha por dentro, o sinal é claro: falta comando. Falta direção. Falta a capacidade mínima para conduzir um país que exige firmeza e clareza, não improviso e dependência judicial.

O Brasil precisa de política, não de muletas. Precisa de diálogo, não de ruptura. Precisa de liderança verdadeira, não de decisões judiciais usadas como escudo para esconder sua própria fragilidade. O país já entendeu que o governo perdeu força. O governo, porém, insiste em não perceber que, quando se abre mão da política, alguém sempre ocupará esse espaço — e nem sempre esse alguém é escolhido pelo povo.

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